Objetivo

Basicamente, este blog objetiva a realização de intercâmbio cultural e de informações, mormente entre os confrades da Academia Ubaense de Letras, entidade da qual o administrador é membro efetivo. O conteúdo poderá ainda subsidiar estudantes ou simpatizantes das letras, seja em pesquisas escolares ou levantamento de informações relacionadas, por exemplo, com a história do Município ou da microrregião de Ubá e da própria AULE.



sábado, 14 de maio de 2011

O ARMARINHO SANTO ANTONIO NO ARQUIVO HISTÓRICO DE UBÁ - por Chiquinho de Carvalho

BR AHCUBA ASAL
Título Armarinho Santo Antônio LTDA
Data (s) [1977-1993] (produção)
Nível de Descrição 1- Fundo/coleção
Dimensão e Suporte Iconográficos: 187 fotografias, 02 catões postais;
Filmográfico: 04 rolos de filme de 16mm, 214 vídeo VHS;
Sonoro: 357 fitas cassete,166 disco de vinil (LP).
Área de Contextualização
Nome (s) do (s)
Produtores

Armarinho Santo Antônio LTDA
História
Administrativa/
Biografia

O Armarinho Santo Antônio iniciou suas atividades comerciais na cidade de Ubá no mês
de julho de 1957, quando o fundador da empresa, José Antônio Mendes, Sr. Zequinha,
começou a viajar pela região como vendedor ambulante de miudezas carregando consigo
duas malas. Durante muitos anos, o Armarinho comemorava o aniversário de fundação
no segundo domingo de julho, reunindo em grande confraternização, todos os
funcionários e seus familiares num dia inteiro de festividades.
Posteriormente, o Sr. Zequinha montou uma pequena loja na Rua São José e, a seguir, na Avenida Cristiano Roças quando, então, iniciou o processo de venda e distribuição como comércio atacadista, embora sempre mantendo pelo menos duas lojas de varejo na
cidade. A ampliação do número de produtos à venda fez do Armarinho um dos maiores
atacadistas do Brasil, que chegou a comercializar mais de 3 mil itens, com 30 mil
pequenos clientes espalhados pelos diversos municípios dos Estados de Minas, Espírito
Santo e Rio de Janeiro. A empresa adotava uma política de preços baixos para pequenos
pedidos, o que proporcionava as condições necessárias para que os seus clientes
(pequenos comerciantes) realizassem as compras à vista, podendo, assim, sobreviver
entre os concorrentes nas mais diversas localidades onde atuou.
Antes da falência em 1994, o Armarinho chegou a possuir uma frota de mais de 100
caminhões para entrega e um quadro operacional de mais de 1000 funcionários. O
sistema de compra nas empresas fornecedoras era a prazo, em uma época de inflação
alta e forte descapitalização proporcionada pelos planos econômicos do Governo Sarney.
Neste contexto, o Armarinho, curiosamente, realizou uma campanha de vendas onde o
cliente deveria enviar juntamente com o pedido, um cheque assinado em branco. Foram
confiados ao Armarinho Santo Antônio, mais de 15 mil cheques assinados em branco, o
que demonstra a credibilidade de um nome e de uma marca que muito realizou também
na área social em Ubá, tanto para os funcionários quanto para inúmeras instituições
sociais e assistenciais da cidade.
Por ser tratar de uma empresa que contava com galpões de armazenagem de 15 mil
metros quadrados, o volume de negociações era bem grande. Vale destacar que o
Armarinho também possuía uma contabilidade real, em que todas as mercadorias que
chegavam aos clientes, eram vendidas somente com nota fiscal, fato que colocou-o como
um grande arrecadador do ICMS - Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços. Para
se ter uma ideia, o ICMS do Armarinho sozinho era maior que mais de 600 municípios
mineiros.
Na escala hierárquica da empresa, o fundador Sr. Zequinha foi sucedido pelo filho mais velho Afonso Ligório Campos Mendes, grande empresário e visionário de negócios.
José Antônio Mendes, o Sr. Zequinha, nasceu em 01/05/1924, na cidade de Rio Pomba.
Era casado com a Sra. Maria de Lourdes Campos Mendes, com quem teve 9 filhos: Afonso
Ligório Campos Mendes, Sinval Campos Mendes, Maria Inês Campos Mendes, Elizabete
Campos Mendes, Marjose Campos Mendes, Zélia Campos Mendes, Josélia Campos
Mendes, Acilda Campos Mendes, Joana Campos Mendes.
História Arquivística Documentação acumulada durante a existência do Armarinho Santo Antônio

Procedência
Acervo doado em 15.10.2009 ao Arquivo Histórico da Cidade de Ubá pelo filho do Sr. “Zequinha” - fundador e ex-presidente do ASAL, Sr. Afonso Ligório Campos Mendes. Este acervo já pertenceu à Secretaria de Cultura de Ubá no final dos anos noventa e na época da transferência encontrava-se na residência do Sr. Roque, ex-funcionário do “Armarinho”.

Área de Conteúdo e Estrutura
Âmbito de Conteúdo O acervo do Armarinho Santo Antônio conta um pouco da história desta grande empresa que marcou a economia ubaense no final do século XX. Parte do acervo é composta por 168 álbuns de fotografia, com cerca de 3.400 fotos. A maioria delas retratando eventos da instituição, como confraternizações, reuniões de vendas, desfile de moda e comemorações diversas.
Além disso, o acervo do ASAL tem 214 fitas VHS, 166 LP´s (Talento Asalino), 357 fitas
cassete, 4 rolos de filme de 16mm e 6 livros “Corpo Azul”, do escritor ubaense Rosalvo Braga.
Ao todo são mais de 4.000 peças.

Estágio de Tratamento
A coleção encontra-se em estágio de tratamento arquivístico
Sistema de Arranjo Organizada por tipo documental e ordenada cronologicamente
Área de Condições de Acesso e Uso
Condições de Acesso Acesso sem restrições. A pesquisa é feita através dos originais
Idioma Português
Característica Física Fita cassete no momento com mídia indisponível
Instrumento de
Pesquisa
Arquivo Histórico da Cidade de Ubá
Área de Controle de Descrição
Responsável Nair Pascoal Gomes
Crédito Histórico descrito por Francisco de Carvalho. Revisão de Leonardo Nascimento de Oliveira
Nascimento, sob a supervisão de Nair Pascoal Gomes.
Data 2010

segunda-feira, 9 de maio de 2011

GOOGLE RENDE VERDADEIRO E JUSTO TRIBUTO A MARUM ALEXANDER

Pessoal:

Fazendo copiar/colar do link abaixo para a barra de endereços do seu navegador, ou simplesmente digitando, no Google, MARUM ALEXANDER + PALÁCIO DAS ARTES, você verá a página do Google onde os sites figurando um após outro, eles confirmam que o Palácio das Artes, de Belo Horizonte, foi inaugurado com um espetáculo apresentado pelo ilustre ubaense e ex-presidente da Academia Ubaense de Letras, Maestro MARUM ALEXANDER.

Que honra para nós, seus conterrâneos, acadêmico da AULE Marum Alexander!

Bravo, Maestro!!!


http://www.google.com.br/search?q=MARUM+ALEXANDER+%2B+PAL%C3%81CIO+DAS+ARTES&rls=com.microsoft:pt-br:IE-SearchBox&ie=UTF-8&oe=UTF-8&sourceid=ie7&rlz=1I7RNRN_pt-BR&redir_esc=&ei=OSnITYaMMaby0gGP3aCrCA

quarta-feira, 16 de março de 2011

ELIER CAVALIERI HOMENAGEIA O LATINISTA A. C. CAMPOLINA E O ESCRITOR ROSALVO BRAGA

UM REENCONTRO DE CONTERRÂNEOS UBAENSES:

Na semana passada pela manhã tive a grata satisfação de reencontrar um Conterrâneo com quem mantenho amizade de longa data, mas que estava meio sumido. O encontro foi na esquina das avenidas Álvares Cabral com Augusto de Lima, mas fomos conversar em seu escritório, ali pertinho. Trata-se do amigo Antônio Carlos Dias Campolina, mais conhecido como “Careca”.
Para quem não o conhece, ele é filho do Professor Campolina que durante várias décadas lecionou Latim no Ginásio de Ubá e redondezas. Portanto, muitos de nós, eu com certeza, devemos ter sido alunos de seu pai.
E para quem acha que o Latim é uma “Língua Morta” como ouvíamos falar desde aquela época, está muito enganado porque o hoje, também Professor Campolina, assim como seu pai, se dedica a lecionar essa matéria, principalmente para os profissionais do Direito – isso mesmo, ele dá Cursos e Palestras, que já ultrapassam o número de 300, sobre o LATIM JURÍDICO há muitos anos em todo o território brasileiro.
Autor dos Livros “S.P.Q.R. – Latim Jurídico” prestes a ser lançado em sua 6ª edição, e “Aforismos e Expressões” em sua 1ª edição publicada em 2009, o Professor Campolina ultrapassou as fronteiras de Ubá para se transformar em um dos poucos especialistas a se dedicar a ensinar aos quatro cantos desse Brasil, a “Língua-mãe” que mistura origem do idioma e história ao mesmo tempo.
Vale a pena conferir em seu site: www.latimjuridico.com.br
Mas, nesse reencontro, como não poderia deixar de ser, falamos de muitos amigos comuns e nos detivemos a relembrar passagens de nossa convivência muito próxima com outro Conterrâneo, ROSALVO BRAGA SOARES, que na “Língua-pátria” se despontou como grande escritor – autor de pelo menos 10 livros (se não me falha a memória) – mantendo em cada um deles seu estilo mineiro de ser.
Falecido recentemente, Rosalvo foi membro da Academia Ubaense de Letras e também da Academia de Letras de Congonhas, cidade com a qual se identificou desde que a conheceu e passou a estar presente com freqüência e onde teve a oportunidade de colocar de manifesto sua outra veia artística, a música, compondo vários sambas-enredo para seu carnaval.
O momento não é de fazer uma biografia do conterrâneo e amigo, mas deixar registrado o que me disse o Professor Campolina após visitar aquela Cidade mineira que acabou dividindo a cidadania do Rosalvo em homenagem prestada pela Câmara Municipal em 1977. Disse-me ele que ficou profundamente orgulhoso e até emocionado ao ver “in loco” mais uma grande homenagem recebida por ele, traduzida com a denominação de Praça Rosalvo Braga ao espaço cultural da antiga Romaria (veja foto abaixo), hoje tombado pelo Patrimônio Histórico. Assim, por merecimentos, nosso conterrâneo Rosalvo passará a ter seu nome conhecido internacionalmente.
Trata-se de um complexo cultural de arquitetura original circular onde estão localizados o Museu de Mineralogia e o Museu de Arte Sacra, a Biblioteca Pública Municipal Djalma Andrade, o Gabinete do Prefeito Municipal, além de diversas oficinas de artes, salas de projeções, lojas de artesanato e lanchonete que pode comportar em seu pátio interno, cerca de 10.000 pessoas nos eventos ali realizados.

Que beleza!!!!
Que reencontro providencial!!!
Que bom ter amigos!!!
É por estas e outras, queridos(as) conterrâneos(as), que nos sentimos orgulhosos ao dizermos que somos ubaenses, que somos nascidos em Ubá.

Elier de Azevedo Cavalieri
BH, 16 de março de 2011

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

CURIOSÍSSIMO: VEJA O QUE NINGUÉM NO MUNDO DEVERIA IGNORAR

Aos caros integrantes do
Grupo "Amigos da Arte e da Cultura",
com o carinho de sempre e o abraço fraterno do
Marum S. Alexander

Retirado de:
http://www.serqueira.com.br/mapas/biblia1.htm
http://www.serqueira.com.br/mapas/biblia2.htm


COMO A BÍBLIA FOI MONTADA (SERQUEIRA)

Este artigo é para estudiosos do assunto – sem considerar fé
e crenças individuais.


Para entender como a bíblia atual foi montada, é preciso saber a origem da Igreja Católica. A própria concepção de "igreja", na época de Jesus, não era a que temos hoje, com templos suntuosos e estrutura hierarquizada.

Os seguidores da doutrina de Jesus, originalmente, eram humildes como o Nazareno e se reuniam em casas particulares onde liam cartas e mensagens dos apóstolos e trocavam idéias: uma versão pioneira do "culto no lar".

A rica e poderosa organização religiosa multinacional que é hoje a Igreja Católica começou a ser planejada em 313 d.C.

Nesta época, com o grande avanço da "Religião do Carpinteiro", o imperador Constantino Magno enfrentava problemas para manipular o povo romano, dividido entre pagãos e cristãos.

Vendo que em médio prazo os cristãos seriam maioria, o imperador traçou a estratégia de unificar ambas as crenças sob a égide de uma nova religião, cujo controle, evidentemente, seria dele.

Sua primeira providência foi declarar-se "convertido" ao cristianismo e dois anos depois convocar uma reunião com as maiores lideranças religiosas e políticas, para estruturar as bases da nova doutrina.

Foi então que, em 325, reuniu-se o Concílio de Nicéia, na Turquia, presidido pelo imperador Constantino e composto por 300 "bispos" por ele nomeados para ratificar a nova versão do Cristianismo que havia idealizado.

O concílio designou a nova crença como "católica" (significa "universal") e montou uma nova versão da Bíblia.

Nos anos seguintes, os cristãos verdadeiros, seguidores dos apóstolos, foram se dispersando e o cristianismo original desapareceu. O plano de Constantino teve êxito.

Uma das primeiras tarefas dos bispos era realmente curiosa: definir se Jesus era a primeira e mais nobre criatura de Deus (Arianismo) ou se ele era o próprio Deus, feito da mesma substância.

Esta última condição prevaleceu, mas não sem a discordância de grande parte dos presentes, que por causa disso foram perseguidos e posteriormente punidos por Constantino, cujos planos necessitavam de uma nova "divindade" – Jesus – para se opor ao próprio Jeová dos Hebreus, ao Buda, aos poderosos deuses do Olimpo.

O Cristianismo passou a ser a religião oficial do Império Romano, na sua forma mais adulterada.

Tornou-se instituição, criaram-se profissionais da religião, adotaram-se simbolismos pagãos e criaram-se ritos e rezas, ofícios e oficiantes.

Uma complexa estrutura teológica foi montada para atender às pretensões absolutistas da casta sacerdotal dominante, que se impunha aos fiéis com a draconiana afirmação: "Fora da Igreja não há salvação".

Quando Constantino morreu, em 337, foi homenageado e enterrado como o "13º Apóstolo". Foi, de fato, o primeiro papa católico.

No inicio do Cristianismo, os evangelhos eram em número de 315 e no Concílio de Nicéia foram reduzidos para quatro, conforme interessava ao imperador.

Poucos anos antes, os escritos já haviam sido objeto de uma rígida triagem (censura), visando retirar as divergências mais acentuadas em relação aos interesses da época, sendo adotadas as versões de Hesíquies, Pânfilo e Luciano.

Para dar uma idéia do grau de adulteração da Bíblia, só na versão de Luciano existem mais de 3.500 passagens reescritas de forma diferente do original.

Antes disso, no ano 170, o erudito Celso já desabafava: "Certos fiéis modificaram o primeiro texto dos evangelhos, três, quatro e mais vezes, para poder assim subtraí-los às refutações".

A Bíblia que temos hoje é provavelmente o texto mais censurado, adulterado e reescrito desde que a letra foi inventada.

As versões sobre como se deu a escolha dos evangelhos, durante o Concílio de Nicéia, são singulares.

Uma diz que enquanto os bispos rezavam, os textos inspirados foram depositar-se no altar por si só.

Outra versão garante que todos os evangelhos foram colocados sobre o altar, e repentinamente os apócrifos – e apenas eles – caíram no chão.

Finalmente, há quem afirme que uma pomba pousou nos ombros dos bispos e cochichou os evangelhos inspirados.

Estes quatro evangelhos canônicos, que os católicos afirmam terem sido inspirados pelo Espírito Santo, jamais foram aceitos como tais antes do concílio.

A Bíblia como um todo, aliás, era muito diferente da que conhecemos.

Vários textos, chamados hoje de "apócrifos", figuravam anteriormente no compêndio, mas ao longo dos sucessivos concílios acabaram sendo eliminados. Quase nada sobrou da sabedoria antiga.

Em relação ao Antigo Testamento, os religiosos só chegaram a um acordo em 1546, no Concílio de Trento. Depois de muita controvérsia, debates e pancadaria geral, o Concílio decretou que os livros de Esdras e a Oração de Manassés seriam eliminados.

Como compensação, para acalmar os ânimos da oposição, os bispos negociaram a inclusão, discretamente, de alguns textos apócrifos aos livros canônicos, como o livro de Judite (acrescido em Éster), os livros do Dragão e do Cântico dos Três Santos Filhos (em Daniel) e o livro de Baruque (na Epístola de Jeremias).

A Igreja Católica se impôs como a dona do mundo e de tudo que nele havia.

E um dos principais campos utilizados para demonstrar a sua autoridade foi a cartografia, tanto pela influência psicológica da iconografia religiosa, quanto pela manipulação das informações geográficas.

Toda a ciência passou a ser controlada pelos padres. Quem discordasse, era torturado e morto.

Na medicina, por exemplo, os conhecimentos práticos tradicionais foram considerados pagãos e proibidos. A doença passou a ser concebida como fruto do pecado ou resultado de possessão demoníaca, exigindo, portanto, além de cuidados médicos, orações, arrependimento e intervenções sobrenaturais – ‘privilégios’ dos sacerdotes católicos.

Até as parteiras foram perseguidas e mortas por usarem seu conhecimento médico para aliviar as dores do parto – um sofrimento, segundo a Igreja, a que a mulher estava obrigada porque representava a punição de Eva pelo pecado original.

Durante 300 anos de caça às "bruxas", a Igreja Católica queimou na fogueira mais de cinco milhões de mulheres que não se dobraram a ela.

Mas isso é outra (triste) história.

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Registramos aqui especial agradecimento deste blog ao colaborador, e maestro MARUM ALEXANDER, membro efetivo, co-fundador e ex-presidente da Academia Ubaense de Letras e fundador e presidente do Madrigal Ubaense, coral do qual é também o regente-titular.

ACADÊMICO CLEBER LIMA ANALISA A OBRA LITERÁRIA QUE CONTÉM OS TRABALHOS 2010 DOS MEMBROS EFETIVOS DA AULE

CLIQUE NO LINK E VEJA A PÁGINA INTEIRA DO GAZETA REGJORNAL CONTENDO A REPORTAGEM:

http://www.gazetaregjornal.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=422:obra-revela-autores-ubaenses&catid=34:cidade&Itemid=54


SEGUE-SE (TAMBÉM LEIA, ABAIXO) INCLUSÃO DE ERRATA A PEDIDO DO AUTOR CLEBER LIMA:

( vide errata) Cristina Carone. Poesia. O gênero mitológico de raízes
gregas encena românticas quimeras. O inspirado erotismo como sublime
arte poética lança luzes de amor sobre a vida num palco - leito. Seria
o palco da vida? Sonho, sinônimo: desejo. Em “Morfeu”, o
personagem-título é o próprio deus dos sonhos com poderes divinos
concedidos por Zeus. Na esteira, “Ao som dos violinos”, o sonho
(novamente) com suave e envolvente fundo musical - indubitável sopro
de Morfeu. De roteiro inconfundível, o nome do deus dos sonhos nem
precisa ser citado – como não foi - para ser reconhecido. É o seu
jeito de tecer o enredo e de arquitetar a utopia. Todos podem cair nas
mãos de Morfeu!, que desta feita agiu em parceria com Eros.
Insinuante, a mulher encantada vive as múltiplas facetas. Metamorfose
metafórica do capricho. Caminhos. Descaminhos. Fantasia. A
protagonista invoca as “Divinas”. Sacerdotisas do “Profano”? E então a
personagem se diz “Esfinge”, outra imagem mitológica, que significa
poder e sabedoria, próprios de uma dominadora. Em derradeiro ela se
revela como tal, assumindo ser La “Femme Fatale”. Já em “Pai”, desfila
a ternura, a saudade e o carinho. Reconhecimento da figura paterna,
terna, sábia e protetora, fonte de inspiração da autora Prova de amor
filial.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"UM CERTO ANTONIO" NO 'O NOTICIÁRIO' (*)

“Um Certo Antônio” é lançado em noite festiva
Livro homenageia o Dr. Antônio Queiroz e foi escrito pelo saudoso escritor ubaense, Rosalvo Braga

Em um evento muito prestigiado, a Academia Ubaense de Letras promoveu o lançamento de “Um Certo Antônio”, livro póstumo do saudoso escritor, contista e poeta ubaense Rosalvo Braga, no auditório do Colégio Sagrado Coração de Maria. Emotiva pelas homenagens prestadas, a reunião festiva da AULE congregou muitas pessoas amigas não só do homenageado, o Dr. Antônio Queiroz, mas também das artes e da literatura ubaense.
Não faltaram artistas ubaenses para abrilhantar o evento, que foi aberto oficialmente com a execução do Hino Nacional e da Aquarela do Brasil. A mesa foi composta pelo odontólogo Dr. Hésio Magri de Lacerda, convidado a discursar em honra ao homenageado; Paulino Braga, irmão de Rosalvo; Dr. André Resende Padilha, Promotor de Justiça; Antônio Carlos Estevam, secretário da AULE; Maestro Marum Alexander, presidente da Academia; Vereadora Rosângela Alfenas, Diretora Administrativa do Hospital Santa Isabel; o presidente da Associação Brasileira de Odontologia/Regional Ubá e homenageado da noite, Dr. Antônio Queiroz; Iolanda Braga, viúva do saudoso Rosalvo Braga; e a acadêmica, musicista e secretária municipal de Cultura, Maria da Conceição Aparecida Camiloto Rocha Ramos. Antes dos discursos, a música ficou por conta de Bráulio e um violonista acompanhante.
Na seqüência, o presidente da AULE comunicou aos presentes que o Dr. Antônio Queiroz seria empossado membro daquela entidade, em solenidade a ser realizada no dia 29 de maio. Naquele momento, o homenageado recebeu seu diploma de acadêmico, sendo muito aplaudido.
Primeiro a fazer uso da palavra, o Dr. Hésio Lacerda não economizou elogios ao falar do homenageado. “A classe odontológica o agradece, pelo seu caráter, pela sua ética e competência profissional e, acima de tudo, pela sua dedicação. E é também um orgulho para a classe ter um representante na Academia Ubaense de Letras”, disse.
“É um momento muito significativo para mim, a emoção é muito forte. A palavra que melhor define a minha fala nessa noite é “agradecimento”. Trabalhamos juntos neste livro, eu e Rosalvo, mas ele só foi possível graças ao apoio de diversas pessoas amigas, que nos socorreram nos momentos difíceis. Um agradecimento especial ao Hospital Santa Isabel, na pessoa do diretor Fabiano dos Santos e da diretora Rosângela Alfenas, a minha companheira Sandra, à minha família, aos meus amigos, ao maestro Marum Alexander, que indicou o meu nome para a Academia, e às minhas professoras. A cadeira que passarei a ocupar a partir de então, quis o destino que fosse a cadeira ocupada pelo acadêmico Rosalvo Braga. E tudo o que se possa falar sobre o Rosalvo é pouco. Impecável exemplo de cidadão, atuou como educador, pesquisador, escritor, historiador, poeta, articulista, copydesquer, “ghost-writter”, é autor de diversas obras. Escreveu peças de teatro, roteiros de espetáculos musicais, foi crítico literário e grande admirador da cultura popular. Seu talento lhe rendeu vários títulos importantes, em homenagens prestadas em sua terra natal e em outras terras. “Um Certo Antônio” não é somente uma biografia, é também um poema e um texto histórico” explanou um emocionado Antônio Queiroz.
D. Iolanda Braga, agraciada com um lindo buquê de flores, recordou a genialidade de Rosalvo Braga, também rendendo homenagens ao amigo Antônio Queiroz e, com um belo pronunciamento do presidente da AULE, encerrou-se a memorável noite.
(*)
[colado do site do O NOTICIÁRIO, cobertura da sessão solene da Academia Ubaense de Letras realizada em 22/05/2010]

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

ESTEVAM NA COLETÂNEA DE TRABALHOS LITERÁRIOS DOS MEMBROS EFETIVOS DA AULE - 2010

TRANSCRITO DA COLETÂNEA DE TRABALHOS LITERÁRIOS DOS MEMBROS EFETIVOS DA AULE, PÁG. 15 A 35


E s t e v a m

e n t r e v i s t a

T a r c i z i o


Antonio Carlos Estevam
Membro efetivo da Academia Ubaense de Letras
Cadeira n. 21, patrono jornalista Otávio Braga,
sucedendo o escritor Sílvio Braga


U M A E N T R E V I S T A S É R I A E
A P A I X O N A N T E

CONHEÇA AS IDÉIAS DE UM PENSADOR QUE PODEM ESCLARECER SUAS DÚVIDAS

(SOB O SUBTÍTULO ACIMA, CUNHADO PELO PRÓPRIO JORNAL, ESTA 1ª. PARTE DA ENTREVISTA FOI PUBLICADA NA ÍNTEGRA, OCUPANDO TODA A ÚLTIMA PÁGINA DO HEBDOMADÁRIO LOCAL,
ENTÃO EM CIRCULAÇÃO,
TRIBUNA REGIONAL,
DE
UBÁ, MINAS GERAIS,
EDIÇÃO DE 20/08/2000)

Breve intróito

A história parece cruel quando não nos deixa negar. Malgrado a insistência, hoje, na busca da conciliação, sabe-se que a Igreja, ao longo dos séculos, pautou sua conduta na defesa intransigente do “monopólio da fé”, reivindicando-o para si. Foi como se se aplicasse a máxima do apóstolo Paulo, com adulteração: “Fora do catolicismo (em vez de fora da caridade) não há salvação”.

A afirmação acabada de ser colocada é do nosso entrevistado, professor Tarcizio de Mauá (assim mesmo, com “z” e sem acento).

Com aquela propriedade de anônimo Pensador contemporâneo, que não aceita adotar para si “conceitos ultrapassados que nada constroem”, Tarcizio, atendendo a solicitação deste seu velho amigo, dignou-se a manifestar sua sábia opinião sobre as afirmações abaixo, tão comumente ouvidas neste “maior país católico do mundo”. Opinião independente e de valor inquestionável, porquanto fundamentada na leitura reflexiva de autores consagrados, são dele afirmações como:

 O caminho para minorar a injustiça social reinante passa, necessariamente, pela cristianização das pessoas; mas só é capaz de promover a evangelização quem não é beneficiário das injustiças...
• Feliz aquele que, não vinculado a religião consegue sentir-se verdadeiro cristão. Talvez tenha sido o caso, por exemplo, do antropólogo Darcy Ribeiro. Pessoas assim de tamanha utilidade para a sociedade foram, de tal forma, grandes, que dispensaram o ‘caminho das promessas’ (via única, na opinião da maioria).
• Ao ditar o caminho da salvação, o Salvador teria pretendido dizer que ‘a ninguém dotado de capacidade de discernimento é dado passar por este mundo e, sendo-lhe oportuno viver como adulto, nada legar de positivo para um melhor caminhar da humanidade rumo à perfeição’.

Agradecendo ao nosso entrevistado, passamos à sua gentil manifestação sobre cada questão abaixo colocada.

A entrevista

ESTEVAM - FULANO NÃO CRÊ NO ESPÍRITO SANTO; SICRANO NÃO ACREDITA EM NOSSA SENHORA...
TARCÍZIO - Transparece a impressão de condenação. Aquele que faz a afirmação parece entender que sustentar a crença acima, ainda que sem fundamentá-la, é imprescindível para se “alcançar a salvação”. É como se mais importasse a pessoa “se dizer crente” do que viver de acordo com os verdadeiros preceitos de Justiça. As expressões “Espírito Santo” e “Nossa Senhora” são criações da Igreja Católica. Assim como no monoteísmo o “Deus humano” dos budistas é Sidarta e o dos muçulmanos é Maomé, o Deus dos cristãos é (só) Jesus. A Santíssima Trindade (à qual parece que a Bíblia não faz referência) é criação do catolicismo, como mistério (um dos dogmas da fé).
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ESTEVAM - FREQÜENTA A MISSA REGULARMENTE, MAS, QUANDO REZO O CREDO, SALTO AQUELA PARTE “CREIO (...) NA SANTA IGREJA CATÓLICA”.
TARCÍZIO - Há coerência no comportamento dessa pessoa. A “reza decorada” parece configurar mera praxe facilitadora, assim dizemos, do ato de “conversar com Deus”. Seria subestimar a Inteligência Suprema, achar que Deus exige crença cega e incondicional em tudo o que a assinatura de uma meia dúzia de mortais comuns entendeu de colocar como “leis da Igreja”, cujo não cumprimento sujeitaria o (in)fiel à condenação. Pertencer à Igreja Católica tem que ser visto como uma forma de manter-se fiel seguidor dos exemplos de Cristo e não de regras ditadas em nome dele. A reza é - no nosso modesto entendimento - para ser exercida como uma forma de se sentir mais próximo do nosso “Princípio e Fim”.
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ESTEVAM – VAI À IGREJA, MAS É ESPÍRITA...
TARCIZIO – O templo católico é aberto ao público, com entrada franqueada a quem lá dentro se comporte “como gente”. A história, mesmo, da Instituição, mostra o costume da sua utilização para acontecências sociais. A própria Missa é vista por muitos como tal. Não vejo sentido em achar que o Criador renega uma inteligência produto da sua criação pelo fato simples de o portador professar outra fé. Aliás, adotar para si esta ou aquela crença não significa ser bom cristão; o que vale é buscar ser útil na medida toda em que se é capaz e em cada momento da existência, de modo que, evitando o mal para os outros e utilizando o tempo vivido para quaisquer formas de prática do bem, a soma algébrica dos feitos e omissões dessa pessoa resulte em saldo positivo. Em outras palavras, é dever de cada um fazer jus ao privilégio da inteligência, ou seja, da capacidade de discernimento que lhe foi dada.
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ESTEVAM - JÁ ERA BATIZADO NA CATÓLICA, AGORA DIZ QUE BATIZOU-SE DE NOVO NA PROTESTANTE.
TARCÍZIO - O batismo é uma forma simbólica de ingresso da pessoa na comunidade cristã. Seria sem sentido a condenação divina ao fato de alguém recebê-lo por mais de uma vez - ministrado que fosse por católico ou não.
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ESTEVAM - FOI IMPEDIDO DE FAZER O ENCONTRO DE CASAIS POR SER DESQUITADO DE OUTRO CÔNJUGE – PRÁTICA NÃO APROVADA PELA IGREJA.
TARCÍZIO - A atitude é tão tola quanto a de qualquer religião que expulsa meros adeptos sob a alegação de descumprimento de “mandamentos”. Caracteriza um duplo erro, na medida em que significa negar à pessoa aquilo de que mais necessita e que é o próprio objetivo do Encontro: formação de consciência cristã.
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ESTEVAM - VAI À MISSA, MAS NÃO TEM AQUELA FÉ QUE RECITA NAS ORAÇÕES.
TARCÍZIO - Isso parece regra sendo vista como exceção. Ademais, reza decorada pode ter sido instituída objetivando mais a padronização de ritual, inclusive racionalização/organização de liturgias. A conversa sincera com Deus é a que brota de dentro da pessoa.
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ESTEVAM - AQUELE PADRE REVELA TER MUITA FÉ: ELE SE REFERE A JESUS, A NOSSA SENHORA E AOS SANTOS SEMPRE DE MANEIRA ENFÁTICA, APOIA MUITO AS COMUNIDADES DE BAIRRO, PROLONGA A MISSA COM REFLEXÕES, GENUFLEXÕES, AVE-MARIAS E OUTRAS REZAS...
TARCÍZIO - O padre é um profissional a serviço da Igreja. É normal, pois, impor um estilo que entende como o melhor que conseguiria adotar com vistas a um resultado também melhor do seu trabalho de “pastor responsável por aquele rebanho”. Tendo menos ou mais fé, sente como recomendável transparecer esta última impressão. Mormente quando a vê como capaz de compensar eventuais “deficiências profissionais” (que pode ser ou não o caso).
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ESTEVAM - SE DIZ CRISTÃO, MAS PARA ELE NÃO EXISTE SANTO.
TARCÍZIO - Santo foi um título criado pela Igreja para distinguir mortos cuja vida foi - a juízo da alta autoridade eclesiástica - exemplo incomum, modelo de cristão a ser imitado, tornado um legado de altíssima relevância. Mas pode haver quem foi canonizado sem tanto merecer, como pode alguém que fez mais jus ao título não ter sido contemplado com ele. O comportamento acima é preferível ao dos que confundem santo com a Divindade.
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ESTEVAM - FREQÜENTA A IGREJA, MAS FALA MAL DELA.
TARCÍZIO - Criticar não é necessariamente falar mal. Quem vai à Igreja como forma de ter uma atividade espiritual, entendida como necessária a todo humano, para si reserva, evidentemente, o senso crítico normal também para julgar a instituição. De que valeria, afinal, a condição de neutralidade...?
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ESTEVAM - FALA QUE É CATÓLICO, MAS POUCO OU NADA LÊ A BÍBLIA...
TARCÍZIO - Lê-se em dicionário: Bíblia é o “Livro sagrado dos hebreus”. Ora, o Cristianismo foi criado pelos seguidores de Jesus, por orientação deste. Jesus freqüentava o Judaísmo, no qual nasceu e do qual tornou-se dissidente. O Cristianismo oficializou-se como Catolicismo; acresceu ao “Livro sagrado dos hebreus” o segundo testamento e ficou sendo o “pai da criança”. Pode ser melhor não ler mesmo a Bíblia do que interpretá-la sempre ao pé da letra. “Se alguma parte do teu corpo te levar a pecar, corta-a; se teu olho te faz desejar o que não é teu, fura-o...”. Bom para evitar tais equívocos, muitas vezes graves, seria, isto sim, inteirar-se da História de tudo isso.
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ESTEVAM - VAI À MISSA, MAS QUASE NÃO COMUNGA; É UM MAU CATÓLICO.
TARCÍZIO - Ao que se sabe, a chamada Eucaristia foi instituída na despedida ‘final’ de Jesus e só aqueles que mostravam comungar as suas idéias, acatando incondicionalmente toda orientação dele emanada, tinham direito a receber aquele sacramento. Tanto que a Santa Ceia aconteceu em reunião fechada. Gesto que continuam, certamente, sendo poucos os que a ele fazem jus, a consciência de cada um é quem dirá se ele deve ou não comungar. Entendida erroneamente - por muitos, acredito - como forma de “limpar a alma”, a Comunhão parece que tem sido recebida mais como um jeito de bater no peito e afirmar: “A minha alma está purificada!”.
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ESTEVAM - SE DIZ CATÓLICO, MAS SE LIMITA A IR À MISSA; OU NEM ISSO.
TARCÍZIO - Não entendo que uma das funções do bom católico seja viver lutando pela preservação do catolicismo. É bom esclarecer que não se trata de ser contra ou a favor da proliferação dessa religião; mesmo porque, ela tem muitas virtudes. Mas ninguém é digno de ser imitado só por ser católico e ninguém deve copiar a maneira de ser religioso do outro. O que determina o tipo de gente que eu sou é a maneira como eu conduzo a minha vida, limitando-me que seja a freqüentar a missa/culto/reunião/reza... ou até nunca indo. Senão, vejamos o providencial questionamento de autoria do padre católico José Luiz Gonzaga do Prado, da Diocese de Guaxupé, Minas Gerais. Sob o título “A Realidade”, diz o texto do sacerdote, publicado no semanário litúrgico Deus Conosco, Ed. Santuário, Aparecida-SP, de 14 OUT 2007: – Tenho visto um adesivo com estes dizeres: ‘Sou católico graças a Deus’. Isso talvez mereça alguma reflexão. Que razões levam a pessoa a alardear sua condição católica? Por que ‘graças a Deus’? Quem está filiado a outras igrejas cristãs, ou é judeu, muçulmano, umbandista, budista, ou não está ligado a qualquer denominação religiosa, é um infeliz, um condenado? Ser católico significa ser melhor do que os outros? A pessoa talvez esteja querendo dizer que cumpre fielmente os Mandamentos da Igreja: Missa dominical, jejum e abstinência, comunhão pascal, dízimo e mesmo, outras ‘que a Igreja manda’. Isso a faz uma boa pessoa ou apenas um observante fiel da tradição?

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ESTEVAM - VAI Á IGREJA, MAS METE O PAU EM TANTA COISA QUE O PADRE FALA.
TARCÍZIO - O padre é um profissional a serviço da Igreja. Fala para platéia muito heterogênea. O discurso versa sempre sobre um tema muito delicado: a fé. Tudo o que exterioriza, tem que fazê-lo como se fosse a sua própria convicção. Experimente conversar com um padre em ambiente que não o de fiéis, você se mostrando gente esclarecida e de certo status e ele certo de que você não sabe que ele é padre. Diversifique os assuntos, tendendo para o lado que você sente ser mais o ponto fraco do padre...
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ESTEVAM - O PADRE FALOU QUE ISSO ASSIM-ASSIM É PECADO...
TARCÍZIO - Quem concebe pecado como a prática de atos ou omissões lesivos a outrem, não se contenta com a mediocridade e tem a consciência bem formada não precisa catalogar, em sua memória, as atitudes que seriam consideradas – por clérigo ou não clérigo – pecaminosas.
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ESTEVAM - AQUELE PADRE SE RECUSOU A CASAR FULANO, OU A BATIZAR SICRANO.
TARCÍZIO – Ao assim proceder, o sacerdote talvez tenha se comportado mais como profissional, que, afinal de contas, é. Se a pessoa se acha mesmo digna de receber tal sacramento, é só procurar outro padre. O julgamento que, nessa qualidade, fez dela, é uma questão de consciência dele. ‘Troque-o’ por um estranho.
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ESTEVAM - NÃO PODE CONTINUAR SENDO PADRE, PORQUE DISCORDA DO CELIBATO CLERICAL.
TARCÍZIO - Uma simples questão de opção, enquanto esta for apenas uma das “n” e mais antigas pendências em torno das quais a Igreja ainda não conseguiu mobilizar coragem de abrir o debate para, com a prevalência da razão, solucionar. Reporto-me à crônica de Luís Nassif que li na Folha de São Paulo em 10/09/2000, intitulada SAUDADES DE JOÃO 23 http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2007/05/12/saudades-de-joao-23/ .
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ESTEVAM - NÃO PODE SE CONSIDERAR BOM CATÓLICO, PORQUE NÃO PAGA DÍZIMO.
TARCÍZIO - Também é questão de opção. Assim como as empresas têm, na sua contabilidade, contas de provisão para prejuízos ou depreciações, a Igreja também tinha que instituir os seus “fundos”. Enquanto ela não cria a necessária coragem de optar por uma forma de arrecadação única, em que as despesas seriam rateadas proporcionalmente à renda do “dizimista” - mas a Igreja assumindo, mesmo, que é obrigatório -, a espórtula e a coleta continuam valendo como alternativa, principalmente para quem cada vez freqüenta um templo diferente. O fiel não sabendo (de acordo com um critério justo) qual seria mais ou menos a sua parte, pode não doer-lhe a consciência por se furtar em contribuir. Não se trata de achar errado a Igreja deixar à vontade do adepto; ela deveria optar por “rasgar o verbo”, inclusive expondo, absolutamente, todas as suas contas a eventuais exames. Caberia, talvez, orientar para que os recursos que têm feito florescer templos, bairros afora, nem sempre bem conduzidos por leigos na natural falta de padres, fossem canalizados para os templos em pleno funcionamento. Fazendo lembrar, no setor de Saúde, a progressiva queda no nível de atendimento médico em postos, ao arrepio da multiplicação do número deles, crescimento que, paradoxalmente, os usuários não cessam de defender na, infelizmente falsa, suposição de que nos novos postos será diferente. Enquanto que, bem sabemos, a única certeza de aumento é do ônus – já gigantesco – para o contribuinte, com mais pessoas sendo dependuradas na folha de pagamento pública.
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ESTEVAM - IGREJA É SÓ A CATÓLICA, PORQUE FOI ELA QUE CRISTO CRIOU.
TARCÍZIO - O argumento de que Cristo fundou o Catolicismo não se sustenta: parece repousar sob grave ignorância ou má interpretação dos fatos. Os próprios ensinamentos religiosos mostram, através do Evangelho, que Jesus comportou-se de forma apolítica. Nasceu no Judaísmo e contra este se posicionou toda a vida, mesmo freqüentando-o. A célebre “entrega das chaves do reino dos céus” a Simão, tornando-o Pedro, teria sido a transferência da responsabilidade aos discípulos de prosseguirem na busca e aceitação só da Verdade, mas nunca optando por formas “político-partidárias” de ensinar a fé, como àqueles tempos já vigorava. Ademais, o que ele teria fundado não é o Cristianismo? – pergunta que fica no ar, por exemplo, no monumental romance da história da filosofia “O Mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder.
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ESTEVAM - REZA, POR DIA, SÓ UM TERÇO; TINHA QUE “COMPLETAR O ROSÁRIO”.
TARCÍZIO - Criação da Igreja, e não de Jesus, o Terço – hoje Quarto? – parece ter sido instituído como forma de cultuar a mãe de Cristo, em devoção que foi-se intensificando com as chamadas “aparições”. Sem questionar o valor das orações, diria que o “conversar com Deus” há de ser, por Ele, mais valorizado pelo quanto você se sente aproximar d’Ele enquanto reza. Por se tratar de “reza decorada”, tende a ser prejudicada na qualidade, na medida em que maior a quantidade, posto que o pensamento se dispersa. E mais: a dedicação excessiva ao exercício de orações tradicionais pode inibir as maneiras de se dirigir a Deus mais informalmente, qual seria colocá-LO mais como amigo do que como Autoridade. Não seria melhor atentar mais para o quanto se faz jus à proteção divina, do que arriscar-se a ser julgado como quem busca beneficiar-se à custa de bajulação?
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ESTEVAM - REZA MUITO, MAS NÃO FICA ATENTO AO QUE ESTÁ RECITANDO.
TARCÍZIO - Sabemos que no trabalho deve-se buscar uma forma de auto-realização, procurando evoluir na maneira como se desenvolve as atividades, de modo a aprimorar as habilidades, visando ao aperfeiçoamento. Celebridade da Neurolingüística, o Dr. Lair Ribeiro é quem diz: “Se você continuar fazendo as coisas como sempre fez, continuará obtendo os mesmos resultados de antes”. E, por que não admitir que a fórmula se aplica também ao hábito da oração, já que orar, verdadeiramente, parece ser melhor entendido como “caminhar para Deus”? E mais: o exercitar na prece, da forma como foi colocado pelo entrevistador, parece mesmo anular o valor que ela teria. Por fim, ficar atento todo o tempo a uma mesma atividade mental, meramente repetitiva, vai-se tornando difícil e sendo sentido, cada vez mais, não prestar-se a nenhum objetivo lógico.
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ESTEVAM - DESCASOU-SE, LOGO NÃO PODE MAIS SER CATÓLICO.
TARCÍZIO - Não acho nem que seja a Igreja quem diz isso. Mas sabemos que foi o Homem de Nazaré quem falou que “Vim não para os de alma pura, mas sim para os pecadores”. Embora elevada à dignidade de sacramento, uma vida a dois não pode se sustentar uma vez desastrada, ao ponto de ser preferível a manutenção da penúria à busca de nova chance para ambos. Seria estabelecer que o equívoco não pode ser desfeito ainda que o equivocado se disponha a fazê-lo. Quantas separações assim têm, afinal, resultado em duas novas famílias felizes! E, se no entendimento dos católicos tal religião é o caminho certo, por que “expurgar” dela quem busca reconstruir vidas que revelem condições psicológicas, morais e religiosas para a formação de uma nova e bem constituída sociedade doméstica, a despeito do malogro da primeira experiência? Se Jesus condenou a separação conjugal, não terá incluído na condenação o tipo de divórcio a que acabamos de aludir.
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ESTEVAM - É UM CIENTISTA, UM DOUTO, MAS NÃO ACREDITA EM DEUS; LOGO NÃO É GENTE QUE PRESTA.
TARCÍZIO - A crença em Deus tanto pode ser professada de múltiplas formas como há quem não a professe de forma alguma. Tem, porém, nisso, uma afirmação absolutamente certa a ser feita: fé imposta não é fé. Estranho, mesmo, seria um Pesquisador se contentar com o que chamaríamos de fé ignorante, infantil, que não evoluiu. Talvez esse estudioso pudesse conceber uma fé pouco compreensível àqueles que a professam da forma mais usual. Respeitado educador, homem de utilidade inquestionável para a sociedade, o grande pensador, catedrático universitário e escritor Darcy Ribeiro foi quem disse, em entrevista, às vésperas da morte: “Infelizmente, não levo comigo o consolo de uma crença na eternidade...” E para quem pensa que Darcy – “o ateu” – buscou a Deus e não achou, ouça esta do ex-frei Leonardo Boff, o gênio da Teologia da Libertação, com mais de sessenta livros publicados e que foi excomungado pela Igreja: “Darcy, sem o pretender, deixou nas suas obras, inclusive as literárias, as marcas da verdadeira fé em si mesmo. E a crença, que ele mesmo chegou a confessar-se invejoso da própria mãe que a professava com convicção, Darcy te-la-á encontrado na ‘nova vida’. O Deus que concebo não ‘renegaria’ filhos como aquele. Ele foi um homem de muita fé, isto sim. Se ‘a fé sem obras é uma fé morta (preceito bíblico)’, Darcy foi um exemplo vivo de que mais vale realizar do que apenas professar”.
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ESTEVAM - QUE MOTIVO TERIA ALGUÉM PARA OPTAR POR SER CATÓLICO?
TARCÍZIO - Prefiro citar razões para se permanecer no catolicismo. Ouve-se dizer: “Todos nascemos católicos; depois é que se muda”. Diria que o Catolicismo é primogênito do Cristianismo. Ele veio para renovar a mentalidade, e permaneceu. A Boa-Nova está atualíssima, dois milênios depois. Erros são próprios das religiões, porquanto comandadas, governadas, dirigidas, concebidas, controladas por humanos. O próprio Deus, dir-se-ia que de certa forma é criação nossa, isto é, da inteligência, da concepção humana. Mas é diferente, porque a Igreja é produto do homem; Deus não. Sendo produto do homem e por ele governada, acumula uma sucessão de erros que vão do conluio com o poder civil à saga da inquisição e à defesa dos interesses subalternos de muitos dos seus dirigentes, ao longo da sua longa história. Há quem veja religião como ‘um mal necessário’ a muitos. Permanecer católico pode ser sentido como uma forma de assegurar a manutenção de uma atividade espiritual, esta sim, imprescindível para um bem-viver.
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ESTEVAM - HÁ MUITO QUE AFASTOU-SE DEFINITIVAMENTE DA IGREJA, ALEGANDO NÃO VER SENTIDO EM FREQUENTÁ-LA; ESTÁ FADADO À CONDENAÇÃO.
TARCÍZIO – Ora, se a freqüência regular ao templo católico fosse passaporte garantido para “um bom lugar na suposta eternidade”, ainda assim seria um grave erro admitir que o simples fato de um fiel rebelar-se, no sentido em que foi colocado pelo entrevistador, o torna indigno do que a Igreja chama de salvação. Mesmo porque religião é coisa, possivelmente, tão antiga quanto a humanidade e não se tem notícia da infalibilidade de uma sequer delas. Todas mereceram ataques, rejeições. Decerto que há quem reivindique para si absoluta desincumbência de quaisquer afazeres espirituais. Se por mero comodismo, evidentemente que traz grave responsabilidade. Se sou matéria e espírito juntos, como desenvolver aquela relegando este? O que não vale, afinal, é a pessoa consciente de sua responsabilidade de humano que é, fazer de conta que ignora ser responsável por viver de forma a mostrar-se digno de ter sido feito “à imagem e semelhança do Criador”. Se o “(in)fiel” encontra, de sã consciência, fórmula julgada mais válida de merecer o céu”... Viver, por exemplo, a alertar aos ‘menos avisados’ sobre a necessidade de empreendermos luta permanente no sentido de minorar as injustiças, pode ser uma forma de evangelizar. Mais ainda quando o alerta, da forma como for feito, contribuir para suscitar dúvidas que os “crentes” não admitem, normalmente, debater... Aí podem ocorrer, na mentalidade do crente, mudanças de conceitos necessárias a se chegar a uma fé, assim dizemos, mais livre, menos obtusa, que, no fundo, ele almeja, e co-mo...


QUEM É O NOSSO ENTREVISTADO
De família de camponeses oriundos da circunvizinhança de Ubá, TARCIZIO GONÇALVES (grafado assim mesmo, com “Z” e sem acento) aqui residiu nos anos cinqüenta. Foi quando cursou o primário no Grupo Raul Soares, já em idade maior que a dos colegas. Depois, trabalhou no comércio. Sua família mudou-se para o interior paulista. Em Mauá, prosseguiu seus estudos até ingressar no magistério via concurso público. Solteiro, estudou teologia, mas não quis ser padre. Mestre em filosofia, lecionando história da educação na capital paulista ficou conhecido como professor Tarcizio de Mauá, em razão da sua procedência. Atualmente aposentado, profere palestras e escreve um livro de memórias.


SEGUE-SE A 2ª. PARTE DA ENTREVISTA, PUBLICADA QUE FOI NO TRIBUNA REGIONAL – EDIÇÃO DE 03/11/2002
PÁGINA 2 INTEIRA

ESTEVAM – PROFESSOR, ABRA VOCÊ A ENTREVISTA.
TARCIZIO – Pois bem. “Qual é a sua religião?” – perguntaram-me. Eu disse ao interlocutor que conseguiria responder com três palavras. Se assim o fizesse, porém, seguramente eu seria mal interpretado. Se quiser – confirmei – adianto essa resposta de 3 vocábulos. Mas, façamos um trato: você vai escutar, em seguida, a minha explicação. A pessoa topou. – A resposta é: Eu sou católico. Mas, explico: (...).

ESTEVAM - E ENTÃO ?
TARCIZIO - Há mais de vinte séculos a civilização só existia além-mar. Eram povos que, por sua vez, ignoravam não só que havia este lado de cá, a América, como não tinham, evidentemente, informações sobre a existência dos silvícolas, velhos habitantes deste continente. Muito mais ainda, ignoravam que aqui já haviam existido civilizações, talvez mais desenvolvidas que a nossa e que foram extintas. Lá, do lado deles, do lado que trouxe a civilização (a que conhecemos) para cá, ou seja, do outro lado do Atlântico, foi lá que nasceu o Salvador. Aliás, uma cultura que veio para o “Novo Continente ou Novo Mundo” junto com os colonizadores – no caso, civilizadores – os europeus.

ESTEVAM - ENTÃO, NÃO EXISTIA A VISÃO ATUAL DE UNIVERSO, DE COSMOS?
TARCIZIO- O que se concebia como Universo era o planeta Terra. E além do lado oriental conhecido, era como se existisse só a parte ocidental da Europa e da África. “O mundo” deixou de significar “a Terra” só depois que a América foi descoberta, há menos de 520 anos.

ESTEVAM - E A RELIGIÃO?
TARCIZIO - A religião, ao contrário, tem a idade da humanidade. Muito embora o estudo da Filosofia remonte a séculos antes de Cristo, por todo esse tempo lá de trás prevaleceu o ensinamento da religião. E ela se meteu a criar explicação para tudo, como se fosse a Filosofia. Só que, verdade pronta e acabada. A ciência, ao contrário, ensina a investigar, não a crer.

ESTEVAM - O SENHOR ESTÁ SE REFERINDO AO CATOLICISMO...
TARCIZIO - O milenar Catolicismo segurou o avanço da Ciência o quanto pôde. Um dos motivos, não teria sido o medo de ruir os alicerces da já tornada a mais poderosa e aliciadora instituição existente no planeta? Aliás, também a mais rica delas. Até hoje...?

ESTEVAM - AÍ, VALIA O QUE A IGREJA DIZIA QUE ERA?
TARCIZIO - A Igreja criou uma verdade e ficou sendo dona dela. Como a verdade é uma só (enquanto que as mentiras são inúmeras), a Igreja mantém o comportamento de quem entende que não pode mudar o que disse. E olha que é ela mesma quem ensina: verdade personificada, só o Onipotente, o Criador.

ESTEVAM - O QUE O SENHOR DIZ DO QUE CHAMAM ‘A PALAVRA DE DEUS’?
TARCIZIO - A Palavra de Deus, dita revelação, mas escrita por humanos, foi revista ao bel-prazer de dominadores da sociedade. Ainda que assim não o tivesse sido, não passaria de verdade relativa, posto que, absoluta – como já dissemos –, é só o próprio Deus. E verdade relativa não existe, porquanto a verdade é uma só – repetimos. E não somos nós, aliás, quem o dissemos. Foi Aquele que nada deixou escrito, quem disse: “EU SOU o (...), a VERDADE, a (...)”. Admitímo-Lo a encarnação de Deus, justamente porque não se tem notícia de alguém antes dEle com tamanha autoridade, a ponto de ter-se colocado assim.

ESTEVAM - O SENHOR DISSE QUE A RELIGIÃO É TÃO ANTIGA QUANTO O HOMEM...
TARCIZIO - Sim, dizíamos, há pouco, que a religião tem a idade da humanidade. O ser humano, por saber – diferentemente dos outros animais – que a sua vida tem limite, teme a morte. No mínimo, teme o sofrimento que a precede e o desapego que ela significa (uma derrocada total; a perda de tudo e de todos, até de si mesmo).

ESTEVAM - O SENHOR ACHA QUE O HOMEM SEMPRE BUSCARÁ SABER O FUTURO?
TARCIZIO - Assim será, enquanto existir a humanidade. E para tanto o ser humano tem que volver ao passado – já o têm dito autores de best-seller como Erick Von Daniken, de Eram os Deuses Astronautas? e Alvin Toffler, de O Choque do Futuro. Aliás, citaria ainda: Louis Pawels e Jacques Bergier, de O Despertar dos Mágicos – Introdução ao Realismo Fantástico. (Esta última obra coloca perguntas que os próprios autores chamam de “aparentemente loucas”, como: “Será a sociedade secreta a futura forma de governo? Terão existido em tempos imemoriais civilizações técnicas? Haverá portas abertas para universos paralelos? Estaremos avançando para alguma forma de ultra-humano?”).

ESTEVAM - E O HOMEM CONTINUARÁ A PERGUNTAR: “PARA ONDE VAMOS?”.
TARCIZIO - Continuará buscando e isto sim, significa a busca de Deus. Porque o Deus concebido em Verdade, jamais o avistaremos, porquanto ele não existe com forma humana ou mesmo com outro formato que lhe quiséssemos dar. Dar forma a Deus é negá-lo. Um Deus formatado teria sido feito por um outro ser e este sim é que, no caso, seria o Deus. Li, de alguém que não me lembro quem – porque é tanta coisa que a gente lê – ah, lembrei-me, foi de Leonardo Boff, que Deus é grande demais para o limite da farta imaginação que achamos que temos. Aliás, para o limite da nossa inteligência, mesmo. Deus não cabe na nossa cabeça. A busca permanente do futuro tornou-se uma ansiedade tão mais difícil de ser tolerada quanto menos estudiosa é a pessoa.

ESTEVAM - DAÍ A CRIAÇÃO DE VERDADES PRONTAS E ACABADAS?
TARCIZIO - Sim, e, por isso mesmo, como que falsas. É a chamada meia-verdade, ainda que o autor da afirmação tenha tido a melhor das intenções...

ESTEVAM - SERÁ QUE FALSIDADE NEM SEMPRE É ASSIM CONDENÁVEL...?
TARCIZIO - Permita-me acrescentar à pergunta: Basta que entendâmo-la (a falsidade) como bem intencionada? A isso talvez possamos atribuir essa multiplicidade de religiões, meu caro Antonio Carlos Estevam, que hoje cresce como nunca, confirmando o preceito: “... falsos profetas virão em meu nome...”.

ESTEVAM - POR QUE A CHAMADA “IMUTABILIDADE PÉTREA”?
TARCIZIO - O medo de ruir os pilares da Santa Madre teria causado essa indecisão das suas autoridades de cúpula, que continuam sustentando a Escritura como Sagrada, no sentido mesmo de absolutamente inalterável. Recentemente, as páginas amarelas de Veja entrevistaram um sacerdote americano de 47 anos, que está badalado na imprensa mundial. Retrógrado, defende de unhas e dentes a imutabilidade pétrea, tão condenada por Rubem Alves em seu artigo intitulado Petrus, que li na Folha de São Paulo. Rubem Alves critica veementemente a atitude do então cardeal Joseph Ratzinger, que defendeu o Catolicismo como a única religião legítima, autêntica, a única que leva à salvação. Aliás, a crônica assinada pelo tão conhecido quanto respeitado jornalista Luis Nassif, escrita também nesse sentido, no mesmo jornal de circulação nacional, precisamente em 10/09/2000, chegou a ser intitulada “Saudades de João 23”. O alto clero continua mantendo os mistérios – caro Estevam –, aqueles dogmas criados a um tempo em que a Igreja se meteu a dar explicações definitivas para coisas. Explicações, muitas das quais a Ciência já provou que são falsas.

ESTEVAM - EXEMPLIFIQUE, PROFESSOR TARCIZIO.
TARCIZIO – Pois não: disse certa feita o padre Fernando Cardoso –num dos seus programas de televisão, este regularmente levado ao ar antes das 7 da manhã na Rede Vida – que a virgindade de Maria é um daqueles casos que a Igreja quando não consegue explicação para coisas que afirma, decide que “a verdade é ‘esta’ e, ponto final!”. Ela insistiu que Jesus não era filho de José e não conseguiu explicar que gameta masculino foi esse que fecundou o óvulo de Maria, já que o Divino Espírito Santo não tem esperma.

ESTEVAM - MAS... O SENHOR ACHA QUE A IGREJA DEVE ESSA EXPLICAÇÃO?
TARCIZIO- Eu, ou o próprio reverendo? Senão, escute. “O fato de Maria ter-se engravidado de Jesus sem a participação de um homem, de um mortal, não significa que ela não manteve relações sexuais com São José, o que seria perfeitamente normal, legal, inclusive, já que eram marido e mulher”, foi como complementou Padre Fernando. Sabe, dileto Estevam, a decisão da Igreja, de rever os seus conceitos que já ruíram por terra veio sendo, foi e está sendo adiada indefinidamente. O custo disso, o tempo se encarregará de dizer.

ESTEVAM - E ISTO NÃO É BOM...?
TARCIZIO - A Instituição foi-se agigantando. As ditas verdades foram se cristalizando. Hoje, não devem os fiéis esperar que os clérigos falem este nosso linguajar nas missas. Eles lidam com platéia muito heterogênea. A mudança de paradigma é um processo. Não se faz com breves comentários em alguns cultos, sem debates; sem um estudo dirigido; sem uma preparação que torne cada fiel capacitado a absorver os conhecimentos necessários a banir a mentalidade arcaica de milênios.

ESTEVAM - NÃO CABE AOS SACERDOTES OPINAR, SUGERIR...?
TARCIZIO - Os padres, embora tenham conhecimento do que estamos dizendo (afinal, estudaram filosofia, teologia...), parecem portar um sentimento de desautorização, ou seja, de que não podem exteriorizar em público o seu próprio pensamento em relação a esse assunto.

ESTEVAM - MAS TEM PADRE QUE, DE ALGUMA FORMA, FALA...
TARCIZIO - Os Frei Betto’s, os Leonardo Boff’s e as Irmã Ivone Gebara’s o fazem, se bem que fora do ambiente da missa, ou seja, em palestras, em escritos publicados. Já os (in)fiéis não estão sujeitos a penalidades como a excomunhão, eis porque deveriam os leigos portarem-se ao contrário de quem aceita tudo e... nas chances de usar o microfone para platéias de igreja, dizer tudo o que acham que o padre deveria falar.

ESTEVAM - COMO O SENHOR VÊ AS BEATIFICAÇÕES?
TARCIZIO - O papa João Paulo II canonizou mais santos do que a quantidade deles acumulada em todo o período da existência da Igreja que antecedeu ao pontificado de Karol Vojtila. Enquanto fazem santos que no Brasil nem se sabe quem foi, pessoas como a minha mãe, por exemplo, por não ter “padrinhos” jamais um bispo, sequer, ouvirá falar dela. Esses estrangeiros não sei o que foram, mas a vida dela eu acompanhei: foi de santidade.

ESTEVAM - O QUE ACHA DA MANEIRA COMO OS FIÉIS CONCEITUAM ‘VERDADE’?
TARCIZIO - A orientação da Igreja é extremamente prejudicial, na medida em que torna as pessoas absolutamente convencidas de conhecerem a Verdade, de estarem com a verdade, de portarem a verdade (mas, que verdade?). Ela “está contida num Livro”. Ora, quem já descobriu a verdade não tem mais que buscá-la. E passa a se julgar melhor do que os que ainda tentam achá-la. Travestem-se de quem tem a verdade para ensinar, em lugar de convidar para que os outros se juntem a eles na procura, na busca, na investigação da Verdade. Ora, se eles “já a conhecem, detêm-na...”. São donos dela.

ESTEVAM - A IGREJA DEVE SER DEFENDIDA INCONDICIONALMENTE?
TARCIZIO - A defesa da Instituição, os fiéis a sentem como apregoada pelos clérigos como condição “sine qua non” para a suposta salvação. Sentem-na mais, como colocada acima mesmo de todos os demais interesses coletivos. Como se a adesão à Instituição (de forma a anular a própria vontade e liberdade) e aos seus mandamentos representasse garantia absoluta de bem-estar do corpo e da alma. E até como se esse bem-estar não pudesse ter lugar mais na vida dos fiéis uma vez extinta, eventualmente, a Igreja. Ou seja: se a Igreja acabar, acaba também o jeito de ir para o céu.

ESTEVAM - O SENHOR TEM ESSES PENSAMENTOS EXPOSTOS E FREQÜENTA A IGREJA...
TARCIZIO - Relativamente ao comparecimento à missa, o professor Tarcizio de Mauá nunca abandonou o hábito de freqüentá-la nos fins de semana. Ele o faz em função da necessidade da prática regular do exercício espiritual, que entende estar realizando ao, daquela forma, cultuar Deus. O fato de a maneira como vejo aquilo tudo lá, ser diferente da visão da platéia, isto hoje já não me incomoda tanto. O que busco, indo lá, é me sentir bem, em paz; refletir; sentir-me, como se diz: “a conversar com Deus, na casa dele”.

ESTEVAM - O SENHOR CONSIDERADA RESPONDIDA, NESTA ENTREVISTA, A PERGUNTA QUE LHE FIZERAM “QUAL É A SUA RELIGIÃO”?
TARCIZIO - Acho que o que ia dizer está contido aí, sim. Agradeço, até, a idéia de ter transformado a resposta numa entrevista, eis que, se ficou alguma coisa sem ser dito, talvez eu tenha até esclarecido outras sobre as quais a conversa não chegaria a versar. Obrigado, amigo Estevam, pela oportunidade de colocar as minhas idéias. Pode continuar publicando-as.

ESTEVAM – Como fechamento desta bela e relevante entrevista, tente, professor, resumir numa frase as idéias aqui passadas ao leitor.
TARCIZIO – Pois não. Eu diria o seguinte: As religiões formalistas tendem à fixação das crenças e à cristalização dos sentimentos; fossilizam a Verdade; desviam-se do serviço de Deus para o da Igreja; lutam entre si e entre os irmãos, em nome do amor, dando origem ao aparecimento das seitas e das divisões; estabelecem autoridades eclesiásticas pressivas; conduzem ao nascimento do falso estado mental aristocrático de povo eleito; mantêm idéias falsas e exageradas sobre a santidade; tornam-se rotineiras e petrificadas e acabam por venerar o passado, ignorando as necessidades do presente.

Histórico do autor:

ANTONIO CARLOS ESTEVAM nasceu em Ubá, Zona da Mata mineira, precisamente na Rua do Divino, 77 – fundos – Centro, no dia 15 de julho de 1951. Aos 6 anos residiu no Beco da Dona Elvira, memórias que meio século depois traria à luz no seu poema de mesmo nome, no livro Coletânea de Contos, Crônicas e Poesias, Academia Ubaense de Letras, Edição Especial 2007, comemorativa do Sesquicentenário de Ubá, p. 26 a 31.
Antonio teve por avós paternos: Francisco de Moura Estevão e Magdalena Soares de Moura; e maternos: Manoel dos Santos e Antonia Leite. Os genitores de Antonio, Fernando e Catarina se conheceram quando jovens lavradores ajudando os pais, ele na localidade rural da Barrinha e ela na da Pedra Branca.
Buscando amenizar a situação de extrema pobreza, após cessar definitivamente os estudos sem concluir o curso primário, Fernando tentou a vida no Rio de Janeiro como ajudante de pedreiro. Nesta altura a então namorada Catarina, que nunca fora à escola – impedida pelos pais por necessidade de dedicação integral à árdua labuta no campo – já trabalhava de empregada doméstica na cidade. A primeira patroa de Catarina viria a ser madrinha de batismo do segundo filho do casal, Antonio. Retornado a Ubá por motivo de insucesso na então capital da República, Fernando se emprega no comércio de secos e molhados do cunhado José Moreira Barros (ou Zé do Nute, ou Zé Larindo), casando-se em 1949.
Quando, em 1962, nasceu o caçula do casal (o oitavo filho), Antonio Carlos tinha onze anos por completar e já memorizara considerável volume de informações sobre a história da família, dado à sua mania de indagar tudo à mãe. Só não aprendera mais, porque muitas das perguntas eram censuradas e outras tantas Antonio nem se atrevia a formular. O aprendizado ia permitindo descobertas sobre as razões de ser-lhes a vida tão difícil.
Num tempo em que instrução formal ainda era como que proibida aos pobres, Antonio já se dava conta do fato de muitos dos colegas de aula, por exemplo, não serem desafortunados como ele. Assim, ainda em tenra idade, foi procurando assimilar os conselhos que recebia de pessoas, como a Tia Celina, para buscar vencer na vida pela via da escolarização.
O primeiro ano primário fora-lhe extremamente difícil de vencer. Um agravante teria sido o fato de ingressar na escola antes dos sete anos, por ser nascido em julho. Idade e estatura menores, sentia-se imaturo entre os colegas. Mas o ano seguinte acenaria com promessa de futuro. Já no 3º. ano primário arrancou elogios da professora Neusa Defelippe Durso, com a redação “A água, o ar e o solo”. A mestra apelidara Antonio de “caminhão sem gasolina”, porque ele dava de cor, por completo e em alta velocidade as lições de Geografia, História e Ciências.
A declamação de poesias como Deus (de Cassimiro de Abreu), Pássaro cativo (de Gonçalves Dias), Veludo (de Luís Guimarães) e de textos em prosa como A cigarra e a formiga (de autor desconhecido) resultaram na inclusão de Antonio Carlos no famoso Clube de Leitura. Aluno de confiança da professora para buscar os livrinhos na secretaria, distribuí-los aos colegas e retorná-los como devia, Antonio, que se tornara uma espécie de monitor, era citado por ela como exemplo a ser seguido pelos colegas.
Concluído o primário com média global 8 (oito), interrompe os estudos para trabalhar e ajudar no sustento em casa. Não havia Ginasial à noite em escola pública. Criado o gratuito Ginásio Dom Bosco para trabalhadores, pelo prefeito De Filippo, Antonio é agraciado pelo prof. José Aldair Mendes, via D. Neusa, com um curso noturno de Admissão ao Ginásio, particular (não existia público).

Em meio a novos colegas que também já trabalhavam, retorna aos bancos de escola aos 11 anos de idade. Durante o ginasial, aulas do Dr. Cícero Fernandes Brandão substituindo a professora de Português Olga Silva Reis impressionam Antonio com trechos do livro Oração aos Moços, de autoria do sábio Ruy Barbosa, que o aluno jamais conseguiria tirar da memória.
Ao longo do Ginasial, apaixona-se pelo ensino de metrificação de versos, do professor Francisco Arthidoro. Conhece “Minha Dor” (uma das poesias que não lhe sairia da cabeça), soneto que, dentre tantos outros, o então aluno Chiquinho Arthidoro, do antigo Gymnásio São José, publicara em periódicos do diretório estudantil.
Logrando êxito em exame de seleção, Antonio cursa Magistério. Já habilitado como Professor Primário – inclusive com estágio em escola-modelo em Belo Horizonte, (estagiou também em Ubá, no mesmo Grupo Escolar onde cursara o Primário) sob a orientação da professora Maria Maire Maciel –, freqüentava o curso Técnico de Contabilidade quando, aprovado em concurso público, a Caixa Econômica Federal o convoca para tomar posse na capital baiana, onde permaneceria lotado de 1974 a 1980. Aos tempos do curso Normal, tratamentos de disritmia cerebral e de úlcera péptica levaram-lhe à perda de dois anos na escola. No mesmo período, contudo, teve elogiada a sua redação pela professora de Português e Literatura, irmã Marília Belini, na qual Antonio confidenciava-lhe sobre si e sua família, por carta. Nesta missiva, recapitulara a dispensa de concluir o Serviço Militar, concedida pela 4a.RM/JF a José Cláudio após lida, pelo oficial do exército, comovente carta remetida por Antonio a esse irmão recruta.
Durante os sete anos que precederam ao ingresso na Caixa, aprendera a “catilografar”, trabalhando como boy e, sucessivamente, nos departamentos de Material, de Recursos Humanos e de Contas a Pagar, em indústrias. Acumulara bons conhecimentos de redação comercial, fruto da releitura sistemática de expedientes cuja linguagem chamava-lhe muito a atenção. Já na Caixa, a obstinação pela leitura dos atos normativos da empresa, cultivada desde à admissão, tornara Estevam “o coringa da agência”, nos dizeres do seu gerente Walter Ferreira Pinto, do qual costumava tirar dúvidas sobre conteúdos das Normas de Serviço, por fim recebendo do chefe o cognome de “manual ambulante”.
Aos tempos em Salvador, concluíra o segundo curso de nível-médio, prestando vestibular e, decorridos quatro anos, colando grau de bacharel na Faculdade de Ciências Contábeis da Fundação Visconde de Cairu. Na ocasião escreveu, a pedido, o texto autobiográfico Meu Curso Primário, para utilização na tese de mestrado em Educação da esposa do professor doutor Sudário.

Escolhido para diagramador do Jornalecon, da Associação dos Economiários da Bahia, publica (nele) a sua primeira poesia, um acróstico. Sucedem-se outras publicações, algumas das quais hoje contidas no opúsculo Fragmentos, que lançou em 1997. Já de volta a Ubá, fez sucessivas publicações de artigos no periódico do Sindicato dos Bancários de Cataguases e no jornal da APCEF-MG. Tópico de sua autoria foi citado na revista FenaeAgora, da Federação Nacional das Associações Economiárias – tiragem 70.000 exemplares. Publicações avulsas no Tribuna Regional valeram-lhe a amizade do escritor ubaense Sílvio Braga. A partir de 1998 manteve, no mesmo semanário, colunas diuturnas como Recuando no Tempo, Ubá em Foco e Excertos do Asal. Foi também colaborador do jornal Folha do Povo.
Mantém atualmente, no Gazeta Regjornal - aliás, desde o segundo ano da fundação desse hebdomadário (1988) – a coluna Fragmentando, onde, eclético, escreve sobre tema livre. Das centenas de artigos e entrevistas já publicados, muitos farão parte do seu segundo livro, ora em fase de montagem, já prefaciado pelo escritor Sílvio Braga, falecido em 05/08/2003 e cujo nome inicialmente seria Laudas Amadorísticas, depois Solaudas, depois Laudassó. Em outubro de 1999, Estevam prefaciou o livro Afinidades, de autoria do comendador José dos Santos Pereira, homenageado da Festa do Ubaense Ausente em 2001, professor da Escola de Engenharia Industrial Metalúrgica de Volta Redonda, da Universidade Federal Fluminense.
Casado há 31 anos com Mara Margareth de Mello Estevam, têm 3 filhos: Amanda, 30, bioquímica; Marlus, 28, advogado, Analista Judiciário no TST em Brasília (ambos casados em 2009); e o caçula Elton, 23, universitário na UFOP.

ESTEVAM É SUCESSOR DE SÍLVIO BRAGA NA CADEIRA N. 21 DA AULE
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A seguir:
DADOS BIOGRÁFICOS DO PATRONO

Ao meio, D. Orminda Braga, a mãe dos 11; Na ponta esquerda, Otávio e direita Ismael Gomes Braga
O jornalista e poeta Otávio Braga (1917-1949), brilhantemente escolhido para patrono da cadeira n. 21 da AULE, por mim ocupada desde novembro de 2005 – em sucessão ao insigne escritor ubaense Sílvio Braga, o que, aliás, muito me honra – deixou vasta obra poética inédita, além de publicar dois livros, inclusive novela. Morreu vítima de tuberculose aos 32 anos. Estudou no Colégio Raul Soares. Trabalhava no Banco de Crédito Real. No livro Antologia Literária Ubaense, lançado por esta Academia em 1986, destaquei, dentre as várias poesias assinadas por Otávio Braga, o soneto intitulado Solidão.
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"OBRA REVELA AUTORES UBAENSES" - por Cleber Lima

TRANSCRITO DO GAZETA REGJORNAL, LINK A SEGUIR:

http://www.gazetaregjornal.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=422:obra-revela-autores-ubaenses&catid=34:cidade&Itemid=54


OBRA REVELA AUTORES UBAENSES

*Texto de Cléber Lima da Silva
*Colaboração Miúcha Trajano Giradi

A Prefeitura de Ubá, através da Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo, entregou à Academia Ubaense de Letras (AULE), a edição do livro “Coletânea de Trabalhos Literários”, para distribuição gratuita.

O projeto teve início com Dr. Manoel José Brandão Teixeira na presidência da AULE . Com seu falecimento súbito foi sucedido pelo Maestro Marum Alexander, que deu prosseguimento ao trabalho. Os exemplares da obra foram entregues à atual presidente, Professora Walsylvia Kümmel Moreira.

Trinta intelectuais participaram com peças que fazem gêneros como conto, crônica, entrevista, poesia, artigo acadêmico e reprodução de pintura. Na coordenação geral a acadêmica e professora Cláudia Condé. A capa foi elaborada pelo jovem designer rio-branquense, Jáder Barreto Lima, formando em Design de Produto da UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais - Campus-Ubá).

Abaixo as análises sobre os textos de todos participantes, seguidos de comentários pessoais. O que se pretende com este trabalho jornalístico é dar uma amostra da atuação da AULE e simultaneamente hipotecar a seus membros apoio e incentivo.

Autores e obras

1.Aluízio Azevedo Teixeira - Tico-Tico. Poesia. Diz a Larousse Cultural que “o tico-tico habita paisagens abertas, campos de cultura, fazendas e jardins. E é um dos passarinhos mais conhecidos e estimados do Brasil”. Muito popular em nossas paragens. Fazendo jus ao apelido o autor, em voo panorâmico sobre “campos de cultura”, literalmente, observa a paisagem de gaivotas, luz, sol, brisa. Subconsciente? É da gente mineira a incessante busca do mar (vide “Gaivotas” e “Vesperal”). Em “As estações” ele faz balanço de vida. O velho Tico-Tico sente que o tempo vai “levando em suas asas o riso juvenil e terno”. Em “23:59”, no profundo silêncio do pouso, vem a solidão e essa má companhia trás questões existenciais: “Falta um minuto para amanhã/Que me reserva o destino?”
2.Ana Vieira de Souza. Poesia. Centralizando-se na escolinha rural, ela retrata a vida de uma observadora menina dos arredores. A merenda, a cantina, o cheirinho que vinha da cozinha, os deveres, a professora, a estradinha, os colegas de embornal: lápis, caderno, borracha. A abordagem social, sem revolta, brota de forma espontânea mostrando com romantismo e humildade a maneira da gente do campo enxergar um novo horizonte. Metáfora. O menino labuta na roça, sofre, reflete e sonha. É que a topada ajudar caminhar: “Pedro está cansado/a tardezinha chegou/E ele senta em cima/do cercado/e olha o horizonte/ quase determinado/Pega a escova e começa/ a esfregar as nódoas de suas mãos que se mistura/ Entre calos que a enxada/Castigou.../aí ele fica a pensar:/E se eu for estudar!” (...) Hoje a evolução social, na escola, onde a autora partilha como professora no distrito de Ubari. E faz – em sentido figurado - uma ode àquela localidade, enaltecendo a bela paisagem serrana de Ubá.
3.Antônio Carlos Estevam. Entrevista. Tarcizio Gonçalves entrevistado de Estevam aprofunda-se nos meandros dos costumes, dogmas, doutrinas e normas da Igreja. Filosofia de um teólogo progressista, de pé no chão, que não quis seguir ordem religiosa e faz um tratado de fé humanitária, que não é incompatível com o evangelho (segundo a Teoria da Libertação). Por outro lado, o autor, prima pela elegância da escrita, entretanto não é omisso ou tampouco superficial diante de tema polêmico. O enfoque crítico, sem perder o respeito, revela um entrevistador preparado e equiparado em altura intelectual com o entrevistado, que a cada pergunta inteligente responde com igual conteúdo. A militância no jornalismo ensina que para se obter bom resultado na entrevista, depende mais é da participação do repórter. É o gênero mais comum da carreira, todavia o mais difícil. Requer-se uma cultura geral. E o Estevam erudito, versado em conhecimentos gerais e no caso, também, específico, soube provocar e ensejar um bom material de reportagem. Ele eficiente cumpriu a pauta.

4.Carla Maria Fagundes Moreira. “Em Saudades do que fui”, ela faz da colcha de retalhos de sua vida um balanço positivo de força e esperança. Em “Restos de Carnaval”, na quarta-feira de cinzas, é encontrado par de sandálias abandonado no passeio público. Logo se imagina as sandálias nos pés da mulata que no tríduo de Momo se divertia. Ary Barroso, Chico Buarque, Vinícius e demais compositores inspirados na personagem que requebra, samba, ginga, namora e anda pelas ruas de Ubá. Carnaval. Ilusão. Tristeza da moça descalça que largou na calçada as sandálias - presente do amor que na terça gorda entrou algemado no camburão. E sumiu. O epílogo lembra Orfeu do Carnaval do poetinha (só que ao contrário, a mulher morre e o homem fica só e desesperado). Ouve-se ao fundo, vindo das bandas do São Domingos a batucada: bumbo, pandeiro, tamborim e reco-reco...
5.Cláudia Condé. Em artigo acadêmico - fiel às regras da ABNT - a autora analisa o contexto da linguagem na obra literária e filosófica. Valores éticos, morais, sociais e políticos, em determinada fase da história, compõem as teorias e doutrinas de consagrados pensadores. O sentido do texto nas entrelinhas ou distorcido nas linhas, mais a inspiração nas fábulas, driblam e zombam da censura e são desvendados numa leitura ideológica.
6.Evandro Godinho Siqueira. Ele descreve o ano de 1951. Um referencial histórico de Ubá cuja circunscrição municipal abrangia os territórios dos então distritos de Divino, Guidoval, Tocantins e Rodeiro. Sem rodovias pavimentadas (o principal transporte era ferroviário) e as indústrias moveleiras não haviam aportado. Pesquisas de dados, demográficos, educacionais, políticos, sociais, comerciais e econômicos perfilam como uma fonte de estudo. O autor do alto de seus noventa e sete anos de lucidez dá seu depoimento para a posteridade, ensejando que sua obra tenha continuação, para que assim, a múltiplas mãos, os ubaenses, mirando em seu exemplo, escrevam sua própria história de luta, de glória e de prosperidade.
7.Helder Carneiro. Em “Todo T”- poesia - o impacto fulminante de fortes palavras-chaves iniciadas pela letra T; em “Em boca dura” - outra poesia - e nas crônicas: o cotidiano, dramas da vida, amores, desamores, convivência humana. Um estilo ousado e solto que induz a palco. A propósito, destaque para a produção da penúltima crônica (“Filhoesquizomãe”). Um monólogo. Um detalhe - o exercício pleno e ostensivo de subversão à regra, contudo, sem prejuízo da arte da escrita. Todas as orações foram construídas com fôlego tal que dispensaram pontuação. Licença poética. Algo bem elaborado e difícil de ser feito. Em outro enfoque bem enigmático, o último texto sobre o corpo, ou o eu: corpo e alma. Todos requerem releitura.
8.Hézio Geraldo Rodrigues de Andrade Júnior. Poesia. No réveillon, Hezinho opta pelo “Tributo ao Ano Velho”, faz um balanço do amigo de 365 dias que se vai depois de uma boa convivência. Em “Os invisíveis”, o autor lança um olhar social para beira do caminho. Ele enxerga - literalmente à margem -, pessoas humildes, gente anônima. Enquanto a maioria passa nariz empinado. Insensível. Preocupada com o capital. Em “Pinta a cara, cara”, mais que um grito de guerra contra a omissão alienada é um chamamento à conscientização e participação.
9.Joaquim Honório Carneiro. No Rio, ao meio-dia, ao passar de ônibus, o mineiro de Ubá, teve a nítida impressão de ter visto um conterrâneo. Em ato contínuo ele desceu e procurou em vão. À noite reuniu-se com os ubaenses da "Turma da Mula Manca". Nesse momento chegou o Aires afirmando que exatamente ao meio-dia disse para um amigo em Vitória-ES, que se imaginava à noite, tomando chope com o grande Honório. Déjà vu.
10. João Hélio Rocha. Fazendo da poesia uma espada, age o médico em legítima defesa da saúde da humanidade. É implacável. Empunhando essa arma golpeia contundente o cigarro. Em “A palavra”, o poeta divaga e sobre o “Pediatra”, presta tributo ao profissional.
11. Joaquim Carlos de Souza. Em sua bronca no Papai Noel, o autor não entende porque o bom velhinho não atende as crianças humildes. Em seu texto homenageando o ilustre ubaense Lincoln César, ele traça o perfil empreendedor e participativo do saudoso personagem. Em “Um Natal sem presépio” e em “Os dois cavalos” aguça o lado afetivo, social e solidário do autor. Seu toque final aflora sua religiosidade em inabalável fé.
12. José Altivo Brandão Teixeira. Poesia – Em "Onda" ele a vê se agigantar na linha do horizonte e tragar os remos do barco. É o destino cruel. Humilde barqueiro luta pela vida. Sem remo. Sem rumo. Sem norte. Sem sorte; em "A vida tece a vida", sonhos do passado e presente; em "Pelo meio do caminho" a sensível percepção da maturidade se evidencia na nova travessia da velha estrada. A redescoberta do simples. Prosa: Em "Águas de março", o velho menino de roça enxerga passar pela janela do ônibus a sorridente natureza depois das chuvas. Agradecida, anuncia farta colheita. Bonança, depois da tempestade; Em "Manhãs de abril", a valsa homônima ouvida na infância na voz paterna, induz no homem agradáveis reminiscências da temperatura amena. Contraste. Noites de insônia. Dias abafados. Aquecimento global; em "Páginas ainda não viradas", o retrospecto dos sonhos daquela geração rebelde nesse mundo hodierno - sem romantismo e sem esperança, todavia com fé; em "Paroquiano do Rosário", o autor de confessa como tal, quando freqüentador assíduo dessa igreja ubaense que via na presença benfazeja do conterrâneo saudoso, Edmo Xavier Monteiro de Castro, o exemplo de cristandade; ele finaliza com "Solidão de arlequim", diante do menosprezo de Colombina que nem sequer reconheceu sua voz de outros carnavais... 13.José Martins Silveira Junior. Prosa. É o cronista da noite do eixo Ubá-Rio. Seus personagens se não são todos reais, também não parecem fictícios. O autor tem uma narrativa bem-humorada que é própria de contador de caso, militante no ofício. Em “Rio Coco”, recordações de tempo de pescaria no Estado de Tocantins envolvendo diálogos com sertanejos; em “Suíte Champion” a aventura de um boêmio em noitada carioca; em o “Rato roeu a roupa do rei de Roma”, ele conta a história de inusitado companheiro de viagem na volta da pescaria no Tocantins. O viajante clandestino chegou ao destino final: dos pescadores e dele próprio, pois foi morto e enterrado na curva do rio Ubá. Era um camundongo.14. J. Xavier Gomes. Prosa. Em “Burrice danada”, a história do filho do fazendeiro que foi para o Rio de Janeiro estudar. Vivia na farra e sempre escrevia pedindo mais e mais dinheiro. Na suposta formatura em Engenharia Civil o filho dispensa a ida dos pais às solenidades e nessa carta simultaneamente pede uma festa na fazenda. Dito e feito. O frechal - a principal viga de madeira no engradamento - ao ser arrastado por junta de bois passou por cima de bosta de boi ainda fresca e verde sinalizando recente defecção. Em seguida a peça foi afixada na preparação do telhado novo do moinho. O “engenheiro” foi convidado a visitar a obra. Chegando ao local, com ar interrogativo ele olhava seguida e fixamente para o teto até suscitar do pai “o porque estava assim entretido”. A resposta veio em forma de pergunta: “Como foi possível o boi borrar naquela altura?” Diante de tamanha ingenuidade a exclamação do fazendeiro: “Vai ser burro assim no quinto dos infernos”.
15. Manoel José Brandão Teixeira. Poesia. Seus versos são sentimentos que brotam do fundo da alma. Ditados pelo coração, eles até pulsam! Ao comparar o pai com o Jequitibá, Manoel na linguagem de nosso regionalismo caboclo, expressa a fortaleza da mata “a enfrentar sempre as adversidades da vida, sendo ainda a sentinela que não adormece”. Para a eterna criança esse é o exemplo digno da figura paterna que há de acompanhá-la pela vida. E quando adulta, personificando o Jequitibá que cresceu à majestosa sombra, repassa aos filhos a segurança. O lado família do autor também sobressai em “A minha filha Ana Luiza”. E em “Flauta”, que também é de reminiscências (que homenageia o Sr. Milton d’Ávila) e demonstra sua fé. Já a religiosidade vagueia por ”Divina Criação” e “Quadro na parede”. O temático amor, em Manoel é encontrado na “Dúvida”, na “Minha Estrela”, em “Muito, muito, além do mar...”e em “Seus olhos”. Sua terrinha, a infância, os sentimentos ecológicos e saudosistas, são encontrados nas “Saudades do Rio Ubá”.
16. Márcio Gomes Calçado. As composições do autor, são sambas-enredos poéticos que se fundamentam na história, pregam uma mensagem reparadora e resgatam a memória. Esse trabalho do inspirado Marcinho já reiteradamente lhe conferiu título de campeão do Carnaval. Assim ficaram eternizados Xavier Pereira, Irineu e o Sesquicentenário de Ubá. O tema ecológico aparece em tom de reivindicação de vida ou morte como em “O rio Ubá pede socorro”. E o maravilhoso mundo de fantasia infantil entra na roda com os personagens das célebres histórias em “Olha nós aí de novo”.
17. Marcini Moura Silveira Jorge. A artista plástica usa as imagens de suas telas para expressar a beleza paisagística ao entorno. Seus quadros pertencem a memoráveis acervos públicos e particulares em diversas cidades. Prédios antigos de Ubá são retratados com perfeição e assim são preservados para posteridade os valores de cultura, de estilo, de época, de arte e de história. O traço de Marcini, essa marca tão característica, como verdadeira escola, já tem seguidores vistos nos trabalhos de seus discípulos.
18. M.C. Aparecida R. Ramos. Prosa. O encantamento do circo não é visto apenas com olhos de espectadora. As irmãs Aparecida e Loreto, ficaram perto do palhaço, do equilibrista, do engolidor de fogo e de espada. Elas conheceram os bastidores do circo da infância, seus camarins, as residências itinerantes dos artistas e o principal, o picadeiro. Eis que a dupla, com a devida autorização dos pais, compuseram o elenco da peça teatral “O milagre de Padre Antônio”. Foram as duas manas, no drama, os anjos vestidos de roupa de coroação, que acompanharam Nossa Senhora. As lembranças circenses são nítidas e antropológicas, pois Aparecida enfoca a importância do fenômeno da interação naquela cultura no interior, antes da televisão.
19.Maria de Lourdes Mendes d’Ávila Costa Ribeiro.Artista plástica. Sua arte é contemporânea e mesmo sendo de genuína brasilidade é universalista. O seu trabalho classifica-se em estilos figurativos, surrealistas e pós-modernos. A natureza – viva ou morta – é presença constante em suas telas.
20. Maria do Carmo de Mello Coelho. Poesia. Em “O sumiço do coelhinho” a autora enreda a história infantil conduzindo o leitorado na procura do personagem desaparecido. Envolve quatro amiguinhos saudosos do bichinho de estimação que até “deixaram de sonhar/ Mas.../como ficar sem sonhar?” Se o coelhinho anda pulando, para procurá-lo “de repente veio de um pulo uma ideia”. Faz sentido na brincadeira didática, o jogo de palavras. Observam-se cenários bucólicos como floresta, jabuticaba, estrada, sítio ou “correu para ver Vovô Juarez tirar leite da vaca”, intercalados com paisagem urbana a exemplo “da fonte luminosa da Praça da Liberdade”. Figuras e cenas que suscitam perguntas e respostas: aprendizado.
21.Marum Alexander.No prefácio ao enaltecer os objetivos culturais da AULE ele o faz, partindo da fundação e dos primeiros tempos do sodalício, sob comando da imortal Clotilde Vieira. Marum apresenta a obra, lamentando a morte súbita e simultaneamente presta homenagem aquele que conduzia os trabalhos com tanta dedicação, sem, contudo, colher o fruto: o presidente Manoel José Brandão Teixeira. Com o romantismo que lhe é peculiar o maestro discorre sobre a Coletânea de forma simpática e hipnótica. Assim, rege... ...como se com sua batuta comandasse a orquestra, conduz e induz o leitor a se deliciar nas páginas da obra. Ao ensejo, ele como presidente agradece o presente à municipalidade; e a coordenação da confreira, Cláudia de Moraes Sarmento Condé.
Em seu artigo de conteúdo técnico ele discorre com magia contagiante sobre a Arte. Marum com leveza e didática, usa seu Know-How para repassar belas e eficientes lições ao leitor comum, eis que, defende a tese de que em cada pessoa existe um artista. O maestro faz um verdadeiro tratado sobre tema que domina, citando compositores, literatos e filósofos, que respaldam sua linha de raciocínio. Sua linguagem fluente é de fácil entendimento. Acrescenta subsídios ao profissional e desperta no leigo o interesse na busca do conhecimento e inserção nesse mundo maravilhoso das artes.
22. Maslouwa Martins de Oliveira Loureiro. Poesia.N’ “O Jardim” dá singela lição à jovem de que não se vive só de pão. Existe o belo, o jardim com suas flores. Ao dizer que “não é necessário o viver somente”, remete o leitor ao provérbio do bravo navegante português que enfrentava e desafiava mar bravio: “navegar é preciso, viver não é preciso”.
23. Milton de Abreu D’Ávila. Prosa. Em “Falando em Música”, ele emprega um tom saudoso ao se lembrar do velho professor de música de sua infância e ao repassar a orientação que recebeu. O cronista disserta em seguida sobre a beleza e o valor da arte musical. Em “Coisas que guardo na memória”, Sr. Milton, nascido em 1923, usufrui de seu conhecimento e de privilegiada memória, para fazer um retrospecto histórico sobre assuntos que dizem respeito a música na cidade e região.
24. Raul Carneiro Filho. Prosa. Inicia com comentários sobre a vida de São Januário, padroeiro de Ubá e também de Nápolis, na Itália. O autor citando autores e inserindo notas de rodapé e bibliografia ao final, dá um profundo mergulho na História, buscando pérolas sobre a região. Nesse contexto ele fala da fundação de Ubá, da origem e trajetória do seu fundador, Capitão-Mor Antônio Januário Carneiro e aborda o desenvolvimento do município. Dedica à Zona da Mata uma atenção especial, mormente no tempo da cultura do café, advinda do Vale do Paraíba.
25. Rosa Maria da Cruz Serrano. Poesia. Em “Cigana encantada”, a autora descreve com musicalidade e fantasia a figura mística de Hudmila, cigana de além-mar. Em “Falar de poesia”, A autora reflete sobre o conteúdo do gênero e o bem que dele brota para a alma. Ela contempla o leitor com definição poética da própria poesia. Em “Iniciação”, a filosofia do conhecimento emoldura a trajetória de uma mulher que medita, caminha, procura, encontra e caminha, caminha para a vida...
26. Ruymar Andrade. Em crônica introdutória registra o papel importante exercido pelo saudoso presidente Manoel José Brandão Teixeira a quem dedica seu poema. Em “Afinidades”, a simbiose que resulta o amor. Em “Ciúmes” a esperança sobressai. Em “Minha árvore”, o seguro refúgio ou abrigo da natureza.
27. Taís Alves. Prosa. Em “O ‘menino’ Olinto” a autora inicia a fluente narrativa sobre aspectos da vida literária do patrono da AULE, lembrando-se de sua entrevista com ele, para a televisão. Era ainda estudante de jornalismo em Juiz de Fora, quando seu ilustre conterrâneo assumiu a cadeira na Academia Brasileira de Letras. Depois ela iria encontrá-lo na apresentação de dissertação de mestrado da confreira Cláudia Condé, cujo tema era “Antônio Olinto: uma viagem da ficção à realidade” - quando o escritor se emocionou com a homenagem. Logo em seguida o lançamento do livro de Cláudia com a presença do homenageado. E em outras ocasiões de visitas a Ubá, oportunidade em que a autora usufruiu-se da privilegiada convivência, para conhecer de perto “de forma bem humorada” esse imortal. Taís divaga sobre a obra de Antônio Olinto e suas particularidades relacionadas à infância e juventude na cidade, que lhe marcaram por toda vida. Em “O processo de criação do escritor mineiro Zuenir Ventura”, Taís, com seu inconfundível estilo didático, solto e suave, como numa aula magna, brinda os leitores com uma peça digna de também figurar nos compêndios de circulação nacional. É a vez da caçula dos acadêmicos ubaenses de dissertar sobre vida, obra, participação jornalística e contribuição histórica de Zuenir Ventura. E ela, respaldada em pesquisa bibliográfica, o faz magistralmente, citando episódios marcantes, enaltecendo e assim fazendo justiça a ação do personagem.
28. Victorio E. C. Codo. Prosa. O trabalho literário é dividido em sete capítulos que têm como títulos topônimos de cidades reconhecidas universalmente como berço da cultura. A redação primorosa mais que um gentil convite, é o passaporte que o autor oferece aos leitores para acompanhá-lo nesse tour pelos sete mares. “Marrocos,Tanger, Fez, Meknes, Marrakech, Casa Blanca, Kenifra e Tetuam” na linguagem amena de Victtorio Codo, são portos acolhedores que pelas páginas da Coletânea os leitores adentram e passam a conhecer os habitantes, suas origens, pratos típicos, o significado do nome, costumes, hábitos e tradições. São verdadeiras aulas de História Geral e de História das Civilizações com riqueza de detalhes que se tem o privilégio de ler num “diário de bordo” escrito por um intelectual culto que aos 91 anos demonstra fibra e vigor juvenis.
29. Walsylvia Kümmel Moreira. Poesia. Enigma para o leitor. Em “Ferrugem” aparece uma porta e pelos seus batentes passam todos: “quem entra e fica e quem sai e vai”. No seu entorno o choro, o riso, o encontro, o desencontro, as flores de amores ou de dores – de vida e de morte. A porta ao ranger, geme e chora. Parece que é em sentido figurado o lugar, o templo, o olho, o juízo, o sentimento. Pode ser uma metáfora sutilmente de cunho espiritual e sabiamente utilizada para descrever um objeto, matéria enferrujada pelo tempo. E a alma? Código. Palavras cifradas. Exemplo de jogo etimológico ou palavra-chave? Banzo! Descodificando: banzo assim como pode ser viga, uma matéria, peça interna ou externa; em contraponto banzo “é triste, abatido’ ‘nostalgia de escravos africanos”, diz Antônio Geraldo da Cunha (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa). Apenas divagando... A autora age como artista talentosa e hábil – não a ponto de disfarçar a sensibilidade de seu lado afetivo. Tristeza. Nostalgia? As palavras têm sonoridade poética facultando ao leitor múltiplas interpretações.
30. Wâner Marlière Arruda. Numa poesia irradia o orgulho por ser ubaense e mostra em verso seu encanto pela cidade; noutra presta homenagem a uma república ouro-pretana. Em ambas o sentimento por lugares que lhe fazem bem. Na prosa, dois textos que retratam a qualidade de palestrante do autor. No primeiro trata com fino humor a demonstração de amor paterno em “A tábua de salvação”. “O encontro de Natal” é uma palestra dirigida ao público infantil, quando o autor usando da psicologia e didática enfoca o verdadeiro sentido da grande festa: comemoração do nascimento de Jesus. Nota-se seu lado espiritualista em seu jeito de escrever. Por outro lado, sua humildade encobre suas raízes históricas. É descendente de Guido Thomaz Marlière, o desbravador da Mata Mineira.

* O articulista e a colaboradora são jornalistas profissionais