Objetivo

Basicamente, este blog objetiva a realização de intercâmbio cultural e de informações, mormente entre os confrades da Academia Ubaense de Letras, entidade da qual o administrador é membro efetivo. O conteúdo poderá ainda subsidiar estudantes ou simpatizantes das letras, seja em pesquisas escolares ou levantamento de informações relacionadas, por exemplo, com a história do Município ou da microrregião de Ubá e da própria AULE.



segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ESTEVAM no Gazeta Regjornal, edição de 17/11/2010, pag. 10

FRAGMENTANDO...
Antonio Carlos Estevam - estevam1951@gmail.com *

RELUTÂNCIA NA “PRIMEIRA VIRTUDE TEOLOGAL”?

No opúsculo “O discurso que não foi dito”, do membro honorário da AULE Euclides Pereira de Mendonça, ainda por ser lançado pela Academia Ubaense de Letras (quem editou), me chamou especialmente a atenção a frase do apresentador do livro, precisamente o saudoso presidente da Academia, Dr. Manoel José Brandão Teixeira, ele se referindo ao autor: “Filosofa sobre o evolucionismo darwiniano e o criacionismo bíblico, com a maestria de um Santo Tomaz hodierno”.

Pois bem. Li, gastronomicamente, os originais da obra desse intelectual que, internacionalmente respeitado, para nosso enlevo se diz “natural de Visconde do Rio Ubá”. Pus-me a ‘deglutir’ o que fui encontrando pela frente, de outros autores, sobre o mesmo assunto. Isto, feito quem busca justificativa para a defesa unilateral e intransigente(1) (não lêia-se inteligente) que sói adepto sentir-se na obrigação de fazer do que diz sua respectiva religião sobre temas assim, tão relevantes quanto delicados de serem tratados.

A rica lição do Dr. Euclides – professor emérito da UnB e ex-morador do antigo Beco do Padilha em Ubá, irmão do ator global Mauro Mendonça – reportou-me à “tentação de crer” outrora sentida por Luis Nassif – expressão deste – Folha deSãoPaulohttp://www.blocosonline.com.br/literatura/prosa/opina/opina07/op070515.php.

Essa mesma “tentação” teria igualmente balançado, penso eu, desde consagrados doutos da ciência declaradamente ateus, das diversas nacionalidades, de Darcy Ribeiro a José Saramago, de Rachel de Queiroz a Dan Brown e até Albert Einstein. Aliás, a este último atribuem outra célebre confissão: “A opinião comum de que sou ateu repousa sob grave erro; quem o pretende deduzir das minhas teorias científicas não as entendeu...”.

Ao concluir pela persistência da minha dúvida, senti reforçada em mim uma antiga convicção: o fato de essas (1)defesas se apoiarem sempre em única fonte (por exemplo, a Bíblia: livro sem confirmação de autorias, à margem da ciência e carregado de contradições...) – não é o caso do acadêmico Dr. Euclides – isto pode bastar para tornar o argumento menos digno de apreciação, de estudo, de análise.

“Uma vez experimentado crescimento espiritual, a necessidade de a pessoa assim contemplada professar religião não mais se justificaria, pois o papel delas haveria de ser ajudar o seguidor a enfim dispensá-las. Assim, quando o ‘já crescido’ opta por manter-se fiel à mesma denominação (religião) em que ‘acidentalmente’ nasceu, tal atitude parece configurar mera forma de não abrir mão de se ter uma atividade espiritual, julgada, no seu caso, necessária a se viver mais à prova das naturais penúrias e com menos temor à morte. É oportuno lembrar que as ações humanas se resumem em evitar o sofrimento e buscar o prazer”, opina o prof. Tarcizio de Mauá, a quem, quando é assim, buscamos ouvir. “Mas, atenção: minha observação é válida para quem vive segundo os verdadeiros preceitos de justiça”, arremata o filósofo também ubaense, há quase meio século radicado em São Paulo.

A reflexão, caro leitor, a que convida este texto, poderia, enfim, nos levar a entender que: sem nos deixarmos orientar sempre pelo tolo senso comum, que vê fé como tema não debatível, não estudável, não discutível, mas apenas e necessariamente afirmável – ainda que “meus” atos e omissões a neguem... –; que vê no simples “não crer” motivo de fatal, total e eterna condenação sumária à geena... a despeito de tudo isso, devemos insistir em teimar na verdadeira fé (não fé incondicional), rejeitando o mero comodismo da descrença, do qual não podem ser tachados intelectuais como os acima citados, eles que, agigantados espiritualmente, tiveram a magnanimidade de publicamente confessar seu ateísmo? Que lição, hein!

Ateus de fé... de muita fé, isto sim?!


De volta aqui no GR, agradeço a manifestação amiga de leitores fiéis
– que me cobraram a falta desta coluna nas últimas edições –
e aproveito para antecipar a todos e à equipe do Gazeta sinceros votos de
BOAS FESTAS e VENTUROSO 2011!

(*) ANTONIO CARLOS ESTEVAM é membro efetivo da Academia Ubaense de Letras – AULE e seu ex-1º secretário por duas gestões, sucessor do escritor Sílvio Braga na cadeira n. 21, que tem por patrono o jornalista Octavio Braga

Um comentário:

  1. Excelente texto.

    Muitas pessoas deveriam ler isto com atenção, mas justamente pelo fato de não quererem discutir os dogmas a elas impostos, não passariam nem mesmo do primeiro páragrafo.

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