TRANSCRITO DO GAZETA REGJORNAL, LINK A SEGUIR:
http://www.gazetaregjornal.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=422:obra-revela-autores-ubaenses&catid=34:cidade&Itemid=54
OBRA REVELA AUTORES UBAENSES
*Texto de Cléber Lima da Silva
*Colaboração Miúcha Trajano Giradi
A Prefeitura de Ubá, através da Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo, entregou à Academia Ubaense de Letras (AULE), a edição do livro “Coletânea de Trabalhos Literários”, para distribuição gratuita.
O projeto teve início com Dr. Manoel José Brandão Teixeira na presidência da AULE . Com seu falecimento súbito foi sucedido pelo Maestro Marum Alexander, que deu prosseguimento ao trabalho. Os exemplares da obra foram entregues à atual presidente, Professora Walsylvia Kümmel Moreira.
Trinta intelectuais participaram com peças que fazem gêneros como conto, crônica, entrevista, poesia, artigo acadêmico e reprodução de pintura. Na coordenação geral a acadêmica e professora Cláudia Condé. A capa foi elaborada pelo jovem designer rio-branquense, Jáder Barreto Lima, formando em Design de Produto da UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais - Campus-Ubá).
Abaixo as análises sobre os textos de todos participantes, seguidos de comentários pessoais. O que se pretende com este trabalho jornalístico é dar uma amostra da atuação da AULE e simultaneamente hipotecar a seus membros apoio e incentivo.
Autores e obras
1.Aluízio Azevedo Teixeira - Tico-Tico. Poesia. Diz a Larousse Cultural que “o tico-tico habita paisagens abertas, campos de cultura, fazendas e jardins. E é um dos passarinhos mais conhecidos e estimados do Brasil”. Muito popular em nossas paragens. Fazendo jus ao apelido o autor, em voo panorâmico sobre “campos de cultura”, literalmente, observa a paisagem de gaivotas, luz, sol, brisa. Subconsciente? É da gente mineira a incessante busca do mar (vide “Gaivotas” e “Vesperal”). Em “As estações” ele faz balanço de vida. O velho Tico-Tico sente que o tempo vai “levando em suas asas o riso juvenil e terno”. Em “23:59”, no profundo silêncio do pouso, vem a solidão e essa má companhia trás questões existenciais: “Falta um minuto para amanhã/Que me reserva o destino?”
2.Ana Vieira de Souza. Poesia. Centralizando-se na escolinha rural, ela retrata a vida de uma observadora menina dos arredores. A merenda, a cantina, o cheirinho que vinha da cozinha, os deveres, a professora, a estradinha, os colegas de embornal: lápis, caderno, borracha. A abordagem social, sem revolta, brota de forma espontânea mostrando com romantismo e humildade a maneira da gente do campo enxergar um novo horizonte. Metáfora. O menino labuta na roça, sofre, reflete e sonha. É que a topada ajudar caminhar: “Pedro está cansado/a tardezinha chegou/E ele senta em cima/do cercado/e olha o horizonte/ quase determinado/Pega a escova e começa/ a esfregar as nódoas de suas mãos que se mistura/ Entre calos que a enxada/Castigou.../aí ele fica a pensar:/E se eu for estudar!” (...) Hoje a evolução social, na escola, onde a autora partilha como professora no distrito de Ubari. E faz – em sentido figurado - uma ode àquela localidade, enaltecendo a bela paisagem serrana de Ubá.
3.Antônio Carlos Estevam. Entrevista. Tarcizio Gonçalves entrevistado de Estevam aprofunda-se nos meandros dos costumes, dogmas, doutrinas e normas da Igreja. Filosofia de um teólogo progressista, de pé no chão, que não quis seguir ordem religiosa e faz um tratado de fé humanitária, que não é incompatível com o evangelho (segundo a Teoria da Libertação). Por outro lado, o autor, prima pela elegância da escrita, entretanto não é omisso ou tampouco superficial diante de tema polêmico. O enfoque crítico, sem perder o respeito, revela um entrevistador preparado e equiparado em altura intelectual com o entrevistado, que a cada pergunta inteligente responde com igual conteúdo. A militância no jornalismo ensina que para se obter bom resultado na entrevista, depende mais é da participação do repórter. É o gênero mais comum da carreira, todavia o mais difícil. Requer-se uma cultura geral. E o Estevam erudito, versado em conhecimentos gerais e no caso, também, específico, soube provocar e ensejar um bom material de reportagem. Ele eficiente cumpriu a pauta.
4.Carla Maria Fagundes Moreira. “Em Saudades do que fui”, ela faz da colcha de retalhos de sua vida um balanço positivo de força e esperança. Em “Restos de Carnaval”, na quarta-feira de cinzas, é encontrado par de sandálias abandonado no passeio público. Logo se imagina as sandálias nos pés da mulata que no tríduo de Momo se divertia. Ary Barroso, Chico Buarque, Vinícius e demais compositores inspirados na personagem que requebra, samba, ginga, namora e anda pelas ruas de Ubá. Carnaval. Ilusão. Tristeza da moça descalça que largou na calçada as sandálias - presente do amor que na terça gorda entrou algemado no camburão. E sumiu. O epílogo lembra Orfeu do Carnaval do poetinha (só que ao contrário, a mulher morre e o homem fica só e desesperado). Ouve-se ao fundo, vindo das bandas do São Domingos a batucada: bumbo, pandeiro, tamborim e reco-reco...
5.Cláudia Condé. Em artigo acadêmico - fiel às regras da ABNT - a autora analisa o contexto da linguagem na obra literária e filosófica. Valores éticos, morais, sociais e políticos, em determinada fase da história, compõem as teorias e doutrinas de consagrados pensadores. O sentido do texto nas entrelinhas ou distorcido nas linhas, mais a inspiração nas fábulas, driblam e zombam da censura e são desvendados numa leitura ideológica.
6.Evandro Godinho Siqueira. Ele descreve o ano de 1951. Um referencial histórico de Ubá cuja circunscrição municipal abrangia os territórios dos então distritos de Divino, Guidoval, Tocantins e Rodeiro. Sem rodovias pavimentadas (o principal transporte era ferroviário) e as indústrias moveleiras não haviam aportado. Pesquisas de dados, demográficos, educacionais, políticos, sociais, comerciais e econômicos perfilam como uma fonte de estudo. O autor do alto de seus noventa e sete anos de lucidez dá seu depoimento para a posteridade, ensejando que sua obra tenha continuação, para que assim, a múltiplas mãos, os ubaenses, mirando em seu exemplo, escrevam sua própria história de luta, de glória e de prosperidade.
7.Helder Carneiro. Em “Todo T”- poesia - o impacto fulminante de fortes palavras-chaves iniciadas pela letra T; em “Em boca dura” - outra poesia - e nas crônicas: o cotidiano, dramas da vida, amores, desamores, convivência humana. Um estilo ousado e solto que induz a palco. A propósito, destaque para a produção da penúltima crônica (“Filhoesquizomãe”). Um monólogo. Um detalhe - o exercício pleno e ostensivo de subversão à regra, contudo, sem prejuízo da arte da escrita. Todas as orações foram construídas com fôlego tal que dispensaram pontuação. Licença poética. Algo bem elaborado e difícil de ser feito. Em outro enfoque bem enigmático, o último texto sobre o corpo, ou o eu: corpo e alma. Todos requerem releitura.
8.Hézio Geraldo Rodrigues de Andrade Júnior. Poesia. No réveillon, Hezinho opta pelo “Tributo ao Ano Velho”, faz um balanço do amigo de 365 dias que se vai depois de uma boa convivência. Em “Os invisíveis”, o autor lança um olhar social para beira do caminho. Ele enxerga - literalmente à margem -, pessoas humildes, gente anônima. Enquanto a maioria passa nariz empinado. Insensível. Preocupada com o capital. Em “Pinta a cara, cara”, mais que um grito de guerra contra a omissão alienada é um chamamento à conscientização e participação.
9.Joaquim Honório Carneiro. No Rio, ao meio-dia, ao passar de ônibus, o mineiro de Ubá, teve a nítida impressão de ter visto um conterrâneo. Em ato contínuo ele desceu e procurou em vão. À noite reuniu-se com os ubaenses da "Turma da Mula Manca". Nesse momento chegou o Aires afirmando que exatamente ao meio-dia disse para um amigo em Vitória-ES, que se imaginava à noite, tomando chope com o grande Honório. Déjà vu.
10. João Hélio Rocha. Fazendo da poesia uma espada, age o médico em legítima defesa da saúde da humanidade. É implacável. Empunhando essa arma golpeia contundente o cigarro. Em “A palavra”, o poeta divaga e sobre o “Pediatra”, presta tributo ao profissional.
11. Joaquim Carlos de Souza. Em sua bronca no Papai Noel, o autor não entende porque o bom velhinho não atende as crianças humildes. Em seu texto homenageando o ilustre ubaense Lincoln César, ele traça o perfil empreendedor e participativo do saudoso personagem. Em “Um Natal sem presépio” e em “Os dois cavalos” aguça o lado afetivo, social e solidário do autor. Seu toque final aflora sua religiosidade em inabalável fé.
12. José Altivo Brandão Teixeira. Poesia – Em "Onda" ele a vê se agigantar na linha do horizonte e tragar os remos do barco. É o destino cruel. Humilde barqueiro luta pela vida. Sem remo. Sem rumo. Sem norte. Sem sorte; em "A vida tece a vida", sonhos do passado e presente; em "Pelo meio do caminho" a sensível percepção da maturidade se evidencia na nova travessia da velha estrada. A redescoberta do simples. Prosa: Em "Águas de março", o velho menino de roça enxerga passar pela janela do ônibus a sorridente natureza depois das chuvas. Agradecida, anuncia farta colheita. Bonança, depois da tempestade; Em "Manhãs de abril", a valsa homônima ouvida na infância na voz paterna, induz no homem agradáveis reminiscências da temperatura amena. Contraste. Noites de insônia. Dias abafados. Aquecimento global; em "Páginas ainda não viradas", o retrospecto dos sonhos daquela geração rebelde nesse mundo hodierno - sem romantismo e sem esperança, todavia com fé; em "Paroquiano do Rosário", o autor de confessa como tal, quando freqüentador assíduo dessa igreja ubaense que via na presença benfazeja do conterrâneo saudoso, Edmo Xavier Monteiro de Castro, o exemplo de cristandade; ele finaliza com "Solidão de arlequim", diante do menosprezo de Colombina que nem sequer reconheceu sua voz de outros carnavais... 13.José Martins Silveira Junior. Prosa. É o cronista da noite do eixo Ubá-Rio. Seus personagens se não são todos reais, também não parecem fictícios. O autor tem uma narrativa bem-humorada que é própria de contador de caso, militante no ofício. Em “Rio Coco”, recordações de tempo de pescaria no Estado de Tocantins envolvendo diálogos com sertanejos; em “Suíte Champion” a aventura de um boêmio em noitada carioca; em o “Rato roeu a roupa do rei de Roma”, ele conta a história de inusitado companheiro de viagem na volta da pescaria no Tocantins. O viajante clandestino chegou ao destino final: dos pescadores e dele próprio, pois foi morto e enterrado na curva do rio Ubá. Era um camundongo.14. J. Xavier Gomes. Prosa. Em “Burrice danada”, a história do filho do fazendeiro que foi para o Rio de Janeiro estudar. Vivia na farra e sempre escrevia pedindo mais e mais dinheiro. Na suposta formatura em Engenharia Civil o filho dispensa a ida dos pais às solenidades e nessa carta simultaneamente pede uma festa na fazenda. Dito e feito. O frechal - a principal viga de madeira no engradamento - ao ser arrastado por junta de bois passou por cima de bosta de boi ainda fresca e verde sinalizando recente defecção. Em seguida a peça foi afixada na preparação do telhado novo do moinho. O “engenheiro” foi convidado a visitar a obra. Chegando ao local, com ar interrogativo ele olhava seguida e fixamente para o teto até suscitar do pai “o porque estava assim entretido”. A resposta veio em forma de pergunta: “Como foi possível o boi borrar naquela altura?” Diante de tamanha ingenuidade a exclamação do fazendeiro: “Vai ser burro assim no quinto dos infernos”.
15. Manoel José Brandão Teixeira. Poesia. Seus versos são sentimentos que brotam do fundo da alma. Ditados pelo coração, eles até pulsam! Ao comparar o pai com o Jequitibá, Manoel na linguagem de nosso regionalismo caboclo, expressa a fortaleza da mata “a enfrentar sempre as adversidades da vida, sendo ainda a sentinela que não adormece”. Para a eterna criança esse é o exemplo digno da figura paterna que há de acompanhá-la pela vida. E quando adulta, personificando o Jequitibá que cresceu à majestosa sombra, repassa aos filhos a segurança. O lado família do autor também sobressai em “A minha filha Ana Luiza”. E em “Flauta”, que também é de reminiscências (que homenageia o Sr. Milton d’Ávila) e demonstra sua fé. Já a religiosidade vagueia por ”Divina Criação” e “Quadro na parede”. O temático amor, em Manoel é encontrado na “Dúvida”, na “Minha Estrela”, em “Muito, muito, além do mar...”e em “Seus olhos”. Sua terrinha, a infância, os sentimentos ecológicos e saudosistas, são encontrados nas “Saudades do Rio Ubá”.
16. Márcio Gomes Calçado. As composições do autor, são sambas-enredos poéticos que se fundamentam na história, pregam uma mensagem reparadora e resgatam a memória. Esse trabalho do inspirado Marcinho já reiteradamente lhe conferiu título de campeão do Carnaval. Assim ficaram eternizados Xavier Pereira, Irineu e o Sesquicentenário de Ubá. O tema ecológico aparece em tom de reivindicação de vida ou morte como em “O rio Ubá pede socorro”. E o maravilhoso mundo de fantasia infantil entra na roda com os personagens das célebres histórias em “Olha nós aí de novo”.
17. Marcini Moura Silveira Jorge. A artista plástica usa as imagens de suas telas para expressar a beleza paisagística ao entorno. Seus quadros pertencem a memoráveis acervos públicos e particulares em diversas cidades. Prédios antigos de Ubá são retratados com perfeição e assim são preservados para posteridade os valores de cultura, de estilo, de época, de arte e de história. O traço de Marcini, essa marca tão característica, como verdadeira escola, já tem seguidores vistos nos trabalhos de seus discípulos.
18. M.C. Aparecida R. Ramos. Prosa. O encantamento do circo não é visto apenas com olhos de espectadora. As irmãs Aparecida e Loreto, ficaram perto do palhaço, do equilibrista, do engolidor de fogo e de espada. Elas conheceram os bastidores do circo da infância, seus camarins, as residências itinerantes dos artistas e o principal, o picadeiro. Eis que a dupla, com a devida autorização dos pais, compuseram o elenco da peça teatral “O milagre de Padre Antônio”. Foram as duas manas, no drama, os anjos vestidos de roupa de coroação, que acompanharam Nossa Senhora. As lembranças circenses são nítidas e antropológicas, pois Aparecida enfoca a importância do fenômeno da interação naquela cultura no interior, antes da televisão.
19.Maria de Lourdes Mendes d’Ávila Costa Ribeiro.Artista plástica. Sua arte é contemporânea e mesmo sendo de genuína brasilidade é universalista. O seu trabalho classifica-se em estilos figurativos, surrealistas e pós-modernos. A natureza – viva ou morta – é presença constante em suas telas.
20. Maria do Carmo de Mello Coelho. Poesia. Em “O sumiço do coelhinho” a autora enreda a história infantil conduzindo o leitorado na procura do personagem desaparecido. Envolve quatro amiguinhos saudosos do bichinho de estimação que até “deixaram de sonhar/ Mas.../como ficar sem sonhar?” Se o coelhinho anda pulando, para procurá-lo “de repente veio de um pulo uma ideia”. Faz sentido na brincadeira didática, o jogo de palavras. Observam-se cenários bucólicos como floresta, jabuticaba, estrada, sítio ou “correu para ver Vovô Juarez tirar leite da vaca”, intercalados com paisagem urbana a exemplo “da fonte luminosa da Praça da Liberdade”. Figuras e cenas que suscitam perguntas e respostas: aprendizado.
21.Marum Alexander.No prefácio ao enaltecer os objetivos culturais da AULE ele o faz, partindo da fundação e dos primeiros tempos do sodalício, sob comando da imortal Clotilde Vieira. Marum apresenta a obra, lamentando a morte súbita e simultaneamente presta homenagem aquele que conduzia os trabalhos com tanta dedicação, sem, contudo, colher o fruto: o presidente Manoel José Brandão Teixeira. Com o romantismo que lhe é peculiar o maestro discorre sobre a Coletânea de forma simpática e hipnótica. Assim, rege... ...como se com sua batuta comandasse a orquestra, conduz e induz o leitor a se deliciar nas páginas da obra. Ao ensejo, ele como presidente agradece o presente à municipalidade; e a coordenação da confreira, Cláudia de Moraes Sarmento Condé.
Em seu artigo de conteúdo técnico ele discorre com magia contagiante sobre a Arte. Marum com leveza e didática, usa seu Know-How para repassar belas e eficientes lições ao leitor comum, eis que, defende a tese de que em cada pessoa existe um artista. O maestro faz um verdadeiro tratado sobre tema que domina, citando compositores, literatos e filósofos, que respaldam sua linha de raciocínio. Sua linguagem fluente é de fácil entendimento. Acrescenta subsídios ao profissional e desperta no leigo o interesse na busca do conhecimento e inserção nesse mundo maravilhoso das artes.
22. Maslouwa Martins de Oliveira Loureiro. Poesia.N’ “O Jardim” dá singela lição à jovem de que não se vive só de pão. Existe o belo, o jardim com suas flores. Ao dizer que “não é necessário o viver somente”, remete o leitor ao provérbio do bravo navegante português que enfrentava e desafiava mar bravio: “navegar é preciso, viver não é preciso”.
23. Milton de Abreu D’Ávila. Prosa. Em “Falando em Música”, ele emprega um tom saudoso ao se lembrar do velho professor de música de sua infância e ao repassar a orientação que recebeu. O cronista disserta em seguida sobre a beleza e o valor da arte musical. Em “Coisas que guardo na memória”, Sr. Milton, nascido em 1923, usufrui de seu conhecimento e de privilegiada memória, para fazer um retrospecto histórico sobre assuntos que dizem respeito a música na cidade e região.
24. Raul Carneiro Filho. Prosa. Inicia com comentários sobre a vida de São Januário, padroeiro de Ubá e também de Nápolis, na Itália. O autor citando autores e inserindo notas de rodapé e bibliografia ao final, dá um profundo mergulho na História, buscando pérolas sobre a região. Nesse contexto ele fala da fundação de Ubá, da origem e trajetória do seu fundador, Capitão-Mor Antônio Januário Carneiro e aborda o desenvolvimento do município. Dedica à Zona da Mata uma atenção especial, mormente no tempo da cultura do café, advinda do Vale do Paraíba.
25. Rosa Maria da Cruz Serrano. Poesia. Em “Cigana encantada”, a autora descreve com musicalidade e fantasia a figura mística de Hudmila, cigana de além-mar. Em “Falar de poesia”, A autora reflete sobre o conteúdo do gênero e o bem que dele brota para a alma. Ela contempla o leitor com definição poética da própria poesia. Em “Iniciação”, a filosofia do conhecimento emoldura a trajetória de uma mulher que medita, caminha, procura, encontra e caminha, caminha para a vida...
26. Ruymar Andrade. Em crônica introdutória registra o papel importante exercido pelo saudoso presidente Manoel José Brandão Teixeira a quem dedica seu poema. Em “Afinidades”, a simbiose que resulta o amor. Em “Ciúmes” a esperança sobressai. Em “Minha árvore”, o seguro refúgio ou abrigo da natureza.
27. Taís Alves. Prosa. Em “O ‘menino’ Olinto” a autora inicia a fluente narrativa sobre aspectos da vida literária do patrono da AULE, lembrando-se de sua entrevista com ele, para a televisão. Era ainda estudante de jornalismo em Juiz de Fora, quando seu ilustre conterrâneo assumiu a cadeira na Academia Brasileira de Letras. Depois ela iria encontrá-lo na apresentação de dissertação de mestrado da confreira Cláudia Condé, cujo tema era “Antônio Olinto: uma viagem da ficção à realidade” - quando o escritor se emocionou com a homenagem. Logo em seguida o lançamento do livro de Cláudia com a presença do homenageado. E em outras ocasiões de visitas a Ubá, oportunidade em que a autora usufruiu-se da privilegiada convivência, para conhecer de perto “de forma bem humorada” esse imortal. Taís divaga sobre a obra de Antônio Olinto e suas particularidades relacionadas à infância e juventude na cidade, que lhe marcaram por toda vida. Em “O processo de criação do escritor mineiro Zuenir Ventura”, Taís, com seu inconfundível estilo didático, solto e suave, como numa aula magna, brinda os leitores com uma peça digna de também figurar nos compêndios de circulação nacional. É a vez da caçula dos acadêmicos ubaenses de dissertar sobre vida, obra, participação jornalística e contribuição histórica de Zuenir Ventura. E ela, respaldada em pesquisa bibliográfica, o faz magistralmente, citando episódios marcantes, enaltecendo e assim fazendo justiça a ação do personagem.
28. Victorio E. C. Codo. Prosa. O trabalho literário é dividido em sete capítulos que têm como títulos topônimos de cidades reconhecidas universalmente como berço da cultura. A redação primorosa mais que um gentil convite, é o passaporte que o autor oferece aos leitores para acompanhá-lo nesse tour pelos sete mares. “Marrocos,Tanger, Fez, Meknes, Marrakech, Casa Blanca, Kenifra e Tetuam” na linguagem amena de Victtorio Codo, são portos acolhedores que pelas páginas da Coletânea os leitores adentram e passam a conhecer os habitantes, suas origens, pratos típicos, o significado do nome, costumes, hábitos e tradições. São verdadeiras aulas de História Geral e de História das Civilizações com riqueza de detalhes que se tem o privilégio de ler num “diário de bordo” escrito por um intelectual culto que aos 91 anos demonstra fibra e vigor juvenis.
29. Walsylvia Kümmel Moreira. Poesia. Enigma para o leitor. Em “Ferrugem” aparece uma porta e pelos seus batentes passam todos: “quem entra e fica e quem sai e vai”. No seu entorno o choro, o riso, o encontro, o desencontro, as flores de amores ou de dores – de vida e de morte. A porta ao ranger, geme e chora. Parece que é em sentido figurado o lugar, o templo, o olho, o juízo, o sentimento. Pode ser uma metáfora sutilmente de cunho espiritual e sabiamente utilizada para descrever um objeto, matéria enferrujada pelo tempo. E a alma? Código. Palavras cifradas. Exemplo de jogo etimológico ou palavra-chave? Banzo! Descodificando: banzo assim como pode ser viga, uma matéria, peça interna ou externa; em contraponto banzo “é triste, abatido’ ‘nostalgia de escravos africanos”, diz Antônio Geraldo da Cunha (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa). Apenas divagando... A autora age como artista talentosa e hábil – não a ponto de disfarçar a sensibilidade de seu lado afetivo. Tristeza. Nostalgia? As palavras têm sonoridade poética facultando ao leitor múltiplas interpretações.
30. Wâner Marlière Arruda. Numa poesia irradia o orgulho por ser ubaense e mostra em verso seu encanto pela cidade; noutra presta homenagem a uma república ouro-pretana. Em ambas o sentimento por lugares que lhe fazem bem. Na prosa, dois textos que retratam a qualidade de palestrante do autor. No primeiro trata com fino humor a demonstração de amor paterno em “A tábua de salvação”. “O encontro de Natal” é uma palestra dirigida ao público infantil, quando o autor usando da psicologia e didática enfoca o verdadeiro sentido da grande festa: comemoração do nascimento de Jesus. Nota-se seu lado espiritualista em seu jeito de escrever. Por outro lado, sua humildade encobre suas raízes históricas. É descendente de Guido Thomaz Marlière, o desbravador da Mata Mineira.
* O articulista e a colaboradora são jornalistas profissionais
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Somos agradecidos pela visita e pela gentileza do comentário. Muito obrigado! Volte sempre.